O iPhone não foi o primeiro smartphone

Nada mudou desde 2007

Se pudéssemos alinhar todos os telefones móveis classificados pela história como uma série estratigráfica, poderíamos perfeitamente observar o momento certo no início de 2007, quando ele mudou para sempre a maneira como lidaríamos com um celular. 

Em janeiro de 2007, dois aparelhos foram apresentados e eram muito semelhantes. O primeiro foi anunciado em 9 de janeiro, por Steve Jobs, o iPhone. A Apple estava desenvolvendo este dispositivo desde 2004, com cerca de 1.000 funcionários dedicados ao projeto, mas o aparelho foi colocado à venda apenas em 29 de junho de 2007. 

O segundo foi lançado em 18 de janeiro, o LG (KE 850) Prada, embora seu design já havia sido divulgado quase dois meses antes, em dezembro de 2006, que acabou recendo o prêmio IF Design Award 2007. É claro que há dúvidas entre qual aparelho foi o primeiro a ter tal projeto visual, aliás, a LG inclusive processou a Apple sobre a questão.

Desde 2007, quase todos os smartphones são muito semelhantes

A partir deste momento todos os smartphones ficaram muito parecidos. Uma grande tela de vidro sensível ao toque, com botões de volume de um lado e talvez outro na parte inferior da tela. Abaixo, temos um bom exemplo dos melhores smartphones de 2017. Não se parecem todos iguais?

Houve smartphone antes do iPhone?

Um ano antes do ano zero

Em 2006, os smartphones em muito variados. Reinava a porta mini-USB, alguns com cabos e adaptadores externos para ligar o aparelho a um computador ou um fone de ouvido simples, não havia muitas telas sensíveis ao toque e os aparelhos da BlackBerry com um teclado completo embarcado lideravam a cena. Me refiro aqui a dispositivos como o BlackBerry Pearl 8100, Motorola Q e Palm Treo 680.

No outro extremo tivemos a Nokia e o seu grande N93 que tinha uma espécie de câmara de vídeo embarcada. A Nokia sempre foi uma referência de qualidade e inovação, mas não conseguiu ver o que estava por vir.

Outro modelo que chamava a atenção por ser diferente era o HTC TyTN, que lembra um pouco os smartphones que vieram na segunda geração. Tela de 2,8 polegadas (240 x 320 pixels) e sensível a toque, Wi-Fi, 3G, alguns botões na parte inferior da tela, teclado QWERTY e rodava o Windows Mobile. Ainda nada perfeito, mas pelo menos tinha Wi-Fi e 3G e poderia ser usado hoje em dia.

Outra modelo semelhante foi o T-Mobile Sidekick 3 com seu Danger OS (OS Dangerous) com a própria nuvem para armazenar fotos e aplicativos. No final, a Microsoft comprou a empresa e encerrou a divisão de smartphones, assim como aconteceu com a Nokia.

Todos os dispositivos lançados em 2006 tinham muitas teclas físicas e isso era normal. Mas até então, ninguém tinha pensado em colocar um teclado virtual? A verdade é que as telas na época não eram tão completas e amigáveis quanto as de hoje. Os únicos displays que responderam bem a toques foram os capacitivos, mas naquela época eram um item de luxo que os fabricantes não podiam pagar. Quase todos optavam por um lápis no estilo PDA.

Dar todo o mérito ao iPhone pode ser em muitos aspectos questionáveis, mas o que está claro é que uniu muitas tecnologias que até então não tinham muita atenção e Jobs conseguiu combiná-las com sabedoria.

Tinha smartphones antes do iPhone, mas quais?

Uma evolução caminhada sob ovos

Os smartphones pré-2007 não eram como os que temos agora, mas já faziam muitas coisas. Para começar, faz muito tempo que os dispositivos móveis têm câmera. A grande maioria dos telefones, entre 2003 e 2007, podiam usar a Internet, alguns através da rede móvel e outros mesmo com Wi-Fi. 

Além disso, havia dezenas de lugares nos quais era possível encontrar aplicativos. O problema é que, naquela época, nem todos os aplicativos eram compatíveis com a maioria dos dispositivos. Além disso, cada fabricante tinha seu próprio sistema operacional e as mudanças e upgrades não funcionavam como hoje em dia, quase todos os modelos tinham uma versão e, comparada a isso, a fragmentação do Android é um sonho.

Nos primeiros anos da década de 2000, tivemos muitos aparelhos inteligentes, mas todos com formas bem diferentes às quais estamos acostumados hoje em dia.

Os primeiros smartphones do milênio

Em 2004, a Nokia apresentou o Nokia 7710, o primeiro smartphone rodando com o Simbian OS v7.0 Serie 90. O aparelho tinha Wi-Fi, tela de toque, câmera com capacidade para gravar vídeos, caneta e até mesmo suporte para Adobe Flash Player, algo que nem Android, nem iOS podem se vangloriar.

Era um dispositivo muito inteligente para a época, muito prático, mas tinha uma grande desvantagem: o design colidiu de frente com a tradição da Nokia e a ideia de que os usuários tinham de smartphone.

Este dispositivo também marca o antes e o depois dos smartphones, mas a marca não coloca muita ênfase no aparelho visto que sofreu muito preconceito pelos usuários. Um dos nossos editores, Shu On Kwok, é um feliz proprietário deste dispositivo, que aparece na imagem acima.

Em 2004 também tivemos o Sony Ericsson P910. O aparelho vinha com um teclado dobrável e tinha como destaque o reconhecimento de escrita à mão livre e a função de controle das televisões da Sony graças ao suporte para infravermelho.

Um ano antes, em 2003, a Nokia trouxe o primeiro console portátil que também fazia às vezes de um celular: o Nokia N-Gage. Esta proposta já tinha aparecido em alguns modelos da fabricante, mas foi com este dispositivo, em especial com a versão N-Gage QD, que atingiu a maturidade.

O aparelho não tinha tela sensível ao toque, mas graças aos muitos botões físicos, era possível dar vários comandos e ter uma experiência muito produtiva. Era tudo em um: rádio, música MP3, aplicativos Java, vídeos, entrada mini-jack, porta mini-USB, cartão de memória e jogos. Enquanto meus colegas tinha um leitor de MP3, um telefone e um GameBoy eu estava um nível acima com o N-Gage. 

O único problema era a bateria que durava apenas um dia. Agora parece normal, mas em 2003 uma bateria de telefone durava uma semana. Ah! Para atender às ligações ou fazer chamadas era necessário usá-lo de lado, mas isso nunca me incomodou.

Preciso dizer que estava feliz com este dispositivo em 2008. Era tudo o que precisava e penso que era uma das altas tecnologias na época, apesar de sua aparência.

Em 2003, a Palm (adquirido pela HP em 2010) terminou com o Palm Treo 600, uma série lançado em 2001 com base no sistema operacional Palm OS. A fabricante fez o salto do smartphone PDA com teclado completo, o objetivo era poder escrever um e-mail de forma fácil e rápida. De fato o dispositivo foi bastante completo, mas ainda tinha tamanho considerável, juntamente com uma antena proeminente.

Em 2002, a famosa fabricante canadense lançou o BlackBerry 5810, o primeiro dispositivo a contar com GSM/GPRS, que em conjunto com um fone de ouvido podia ser usado para realizar chamadas.

Os melhores celulares do século XX

Antes da virada do século também tivemos alguns smartphones. Podiam não ser tão inteligentes quanto os do século XXI, mas certamente não se limitavam apenas s chamadas e jogos de cobra tradicionais. Bons exemplos foram o Ericsson R380 (2000), o Nokia Connect 9110 (1998) ou Ericsson GS88 (1998). Os dois últimos estavam mais próximos de um mini laptop convertido em celular.

Mas o primeiro smartphone da história, apareceu em 1994 e tinha tela sensível ao toque, foi construído pela IBM e Mitsubishi Electric: era o IBM Simon. Uma enorme caixa preta com um display tátil que só reagia ao toque do seu lápis, mas foi a tecnologia mais avançada por anos:

É claro que deixei um bom número de smartphones anteriores a 2007 de fora, mas acho que é a sua chance de participar desta jornada pela história dos smartphones. Você se lembra qual foi o seu primeiro smartphone?