Quais as diferenças entre um SiP e um SoC? O que é o SiP1?
Há alguns dias, tivemos um lançamento no Brasil que pode ter passado batido para alguns, mas que deve ser levado em consideração por quem se interessa por tecnologia. A Asus lançou no brasil um novo intermediário, equipado com um novo conjunto de processamento da Qualcomm, o SiP.
Porém, ele ainda não é algo muito poderoso, o aparelho não é um topo de linha e isso trouxe críticas, tampando um pouco a importância do que realmente estamos vendo aqui. No artigo abaixo você pode ler um pouco mais sobre as novidades do SiP para o mercado, e hoje vou falar um pouco mais da parte técnica dele.
Um "processador" 820
Primeiro, vamos deixar algo claro. Geralmente, quando fazemos análises (não apenas eu, como muitos outros), indicamos que tal aparelho traz "processador" Snapdragon 820, por exemplo. Esse não é o uso correto do termo, mas geralmente é usado para descomplicar a informação, que já é bem complexa como um todo para ser entendida por quem não é muito próximo de tecnologia.
O que seria correto dizer, nesse exemplo, é que temos um SoC Snapdragon 820 com um processador MSM8996. Isso porque um SoC é um conjunto de componentes que, determinados e montados, têm um nome específico para a série 400, 600, 800 e outras. O mesmo pode acontecer em produtos da MediaTek e outras marcas, mas focarei na Qualcomm aqui, pois o SiP está relacionado a ela.
O que é um SoC?
Passado por isso, vamos ao conceito de SoC. Em inglês, é a abreviação de System on Chip, ou Sistema em um Chip. Um chip não é apenas um componente, é toda uma plaquinha verde (de forma bem leiga) com diversos componentes. A forma como ele é montado, seu tamanho, os componentes escolhidos pra ele, entre outros, é que diferenciam um chip do outro.
Em um SoC, temos soldadas peças como modem, processador, placa gráfica, WiFi, Bluetooth, NFC, conectividade 2G/3G/4G, GPS, receptores e transceptores, memória RAM e os conectores para câmeras, display, áudio, conexões USB, etc. Por isso seu nome, é todo um sistema computacional em um chip, em um circuito integrado.
E o que é um SiP?
Explicado o que é o SoC, chegamos ao SiP. Ouvimos muito mais sobre SoCs do que sobre SiPs no mercado móvel, justamente porque ele é novo nesse terreno. SiP é a abreviação de System in Package, ou Sistema em um pacote.
Nesse caso, enquanto as coisas estão espalhadas pelo chip em um SoC, no caso do SiP muitos componentes, entre os mais importantes que eu já citei, estão todos em um pacote, esse sim soldado ao chip. Falando especificamente do Snapdragon SiP 1, são mais de 400 componentes dentro de uma pequena peça.
O SiP é melhor do que o SoC? Depende muito do uso, das circunstâncias, do produto, do espaço disponível dentro desse produto, de custos, de intenção de desempenho... para o caso do Brasil, e talvez de muitos outros produtos, o SiP é uma escolha interessante, da qual falo mais a seguir.
O SiP é uma novidade?
Apesar de muitos de vocês estarem ouvindo a respeito do SiP apenas recentemente, graças a Asus e a Qualcomm, o SiP não é exatamente uma novidade. Há pelo menos quatro anos esse é um método conhecido de construção de sistemas.
O que é novidade é sua produção pela Qualcomm, e sua aplicação em smartphones. O interessante aqui é que o SiP pode ser colocado em espaços menores, abrindo horizontes para smartphones diferentes e também para aplicações em Internet das Coisas.
O que o SiP tem de vantagem para um smartphone?
Vendo o primeiro SiP da Qualcomm chegar a um intermediário, é possível que você pense que se trate de algo com pouco poder de fogo, sendo só mais um chip qualquer. Mas há vantagens sim, algumas delas ainda nem exploradas direito.
Primeiro, o SiP ocupa menos espaço. Como os componentes ficam dentro de uma espécie de sanduíche quadrado de menos de 2,5 cm, algumas vezes até empilhados, o espaço ocupado é muito menor. Você consegue ver nas fotos que fiz de um SiP do Zenfone Max Shot e do SoC de um Zenfone 5 como o primeiro deixa muito espaço sobrando.
Isso permite, em futuros projetos, mais espaço para bateria, aparelhos menores, inserção de componentes melhores, como os de câmera, ou até de componentes novos. Com smartphones cada vez mais finos e mais poderosos, espaço importa. É possível dizer que pode haver menor gasto de energia, também.
Além disso, a Qualcomm consegue garantir mais qualidade e compatibilidade dos componentes dentro de um SiP. Isso porque, no caso de um SoC, o fabricante do smartphone pode escolher componentes como memória RAM, WiFi e outros a seu gosto, ou ao gosto das regras de fabricação do país.
Com o SiP, a Qualcomm quem escolhe todos os componentes que estarão dentro desse sistema, e pode garantir que apenas os melhores e mais compatíveis estejam presentes. A própria Qualcomm entrega ao fabricante todos os componentes já pré-ajustados e pré-testados. Quanto melhor os componentes internos se conversam, menos chances de problemas físicos, e mais probabilidade de compatibilidade com sistemas futuros.
O SiP também é modularmente mais prático, permitindo facilidade de adaptação em uma variedade de mercados. Você pode fazer vários projetos de RF (rádio frequência) diferentes e usar o melhor para cada segmento de mercado, ou para cada país, sem ter que alterar o chip profundamente. Com um SoC, você está mais preso com o que você escolheu para colocar no dado.
Mas, claro, também temos o fator custo. Há vantagens financeiras para a Qualcomm, a fabricante e os consumidores com o SiP, que pode reduzir em até 10% o valor de um produto.
Por que aqui no Brasil?
Se você leu o artigo acima, viu que a fábrica que irá produzir os SiPs em escala terá sede no Brasil. A Qualcomm, em parceria com a Universal Scientific Industrial (USI) está preparando uma fábrica aqui no país que passará a produzir o Q-SiP 1 em 2020. Por enquanto, eles estão sendo produzidos na China.
A Qualcomm se juntou a algumas fabricantes, entre elas a Asus, para projetar o SiP pensando muito nas peculiaridades do Brasil. Aqui, o Governo tem uma série de exigências para a montagem, precificação e importação de eletrônicos como smartphones, e o SiP vai ajudar tanto a Qualcomm como as fabricantes a terem melhores produtos e por preços reduzidos por aqui.
Isso não impede que o SiP seja utilizado em outras partes do mundo, e é bem esperado que a Qualcomm aproveite esse projeto em outros países. Ainda assim, é interessante vermos um projeto tecnológico desses nascendo no Brasil
Mas o Snapdragon SiP 1 é um Snapdragon 450? É um 625?
Por fim, um tópico que não poderia deixar de ser falado. Com a chegada do primeiro SiP em smartphones no Brasil e no mundo, muita confusão apareceu. Por ser um conjunto novo, mas com componentes vindos de outros SoCs, analistas e apps de informação estão confusos.
O SiP leva a inconsistências de informações quando você instala seus apps de benchmark preferidos, como um AIDA 64 ou CPU-Z. Neles, a informação consta de que o smartphone traz um Snapdragon 625, embora o processador seja um SMS8953 octa-core de 1.8GHz com uma GPU Adreno 506 e fabricação em 14 nanômetros, o que não faria sentido. O conjunto também pode ser o mesmo que o Snapdragon 450.
A Asus e a Qualcomm posicionam o Snapdragon SiP 1 entre um SoC 450 e um 630, algo como um série 500, mas é importante notar que aqui temos algo totalmente diferente desses números, e não necessariamente eles devem ser levados em conta.
Alguns diferenciais dele estão, por exemplo, na largura de banda do SiP, próximo ao da série 800, um número que por si só já é o dobro dos encontrados no 625 e 450. A eficiência energética parece muito boa em nossos testes, e há suportes a codecs e tecnologias só presentes em SoCs superiores, como 660 e série 800, incluindo o Widevine L1, que dá acesso a qualidade HD no Netflix.
Então não, o SiP não é um 450 e nem um 625. Ele até pode ter muitos componentes conhecidos desses SoCs, pode ser baseado neles de alguma forma, mas ele traz uma mistura maior, incluindo aí itens e suportes vistos apenas em processadores mais potentes no sistema SoC.
Porém, por enquanto, essa primeira geração do SiP é para intermediários, pois acaba faltando em processamento e no clock da memória RAM. Mas a Qualcomm já deixou claro que há novos projetos para o SiP, e a Asus também está interessada.
*Agradecimentos a Melkor
Tendo em vista que está tudo em um chip chego a seguinte conclusão:
O SiP é um SoC, porém com muito mais componentes incluídos e nome diferente para chamar atenção.
Primeiramente ótimo artigo, pois esclareceu algumas duvidas que tinha, quem sabe num futuro próximo possamos realmente colher esses frutos com relação ao SIP, podemos com o tempo ver não só a Asus como também outras fabricantes e isso dependendo do caso pode vir a ser útil para o consumidor final, afinal o mundo tecnológico estava precisando se movimentar e ter um pouco de inovação.
Nada contra mas não sei por que não consigo acreditar nesse trecho " SiP vai ajudar tanto a Qualcomm como as fabricantes a terem melhores produtos e por preços reduzidos por aqui." pois a anos as fabricantes vem arrumando um jeitinho de cobrar mais caro dos brasileiros, fora os problemas encontrados aqui como impostos etc. mas espero estar enganado e que realmente o tão sonhado custo beneficio venha por aqui.
Não confio ainda, vamos esperar mais versões e melhoramentos. Early access não dá.
A idéia da matéria é realmente boa, porém o conteúdo está tecnicamente errado. Soc é "system on chip", ou seja é um chip (circuito integrado) e não toda a PCB de um telefone. O SOC seria específicamente apenas o "processador" principal (o "msm" ou "sdm" da Qualcomm)
Sip é um módulo que junta vários "chips" (o processador, a memória, os gerenciadores de energia e amplificadores) em um componente único.
Fabrica da Qualcomm no brasil em 2020, essa é a parte mais importante, o começo da fabricação de chips no brasil
As analises e explicações tecnológicas feitas pela Stella são os melhores deste site!
Assino embaixo
Um texto informativo, claro e bem escrito é outro departamento! Belo trabalho, Stella!
Parabéns pelo post , recheado de boas informações e desmestificando o SIP
Ótimo texto explicativo. Parabéns por sua sutileza e ricos detalhes a respeito de algo que ainda não estava bem entendido, pelo menos não por mim.
Obrigado
Parabéns pela abordagem.
Tudo isso ao meu ver tratará boas evoluções otimizando espaço e fazendo a perfeita união entre os componentes.
Obrigado mais uma vez .
Fico feliz que tenha ajudado a esclarecer, João :)
Muito bom o seu artigo Stella, pois a falta de informação gera muito ruído e muitas vezes acabamos lendo/e ou ouvindo besteira por pessoas que uma vez não tendo acesso as informações corretas (usando a teoria do "achometro"), acabam falando besteiras .
Nada como um artigo muito bem redigido por uma pessoa que sabe muito sobre este assunto !
É uma novidade que traz sim uma redução de custos com construção, engenharia e possivelmente com implementação de drivers. Mas tudo tem seu lado negativo, como uma dependência maior da Qualcomm, e a restrição maior em fazer projetos com soluções proprietárias e mais exóticas. Eu prefiro aguardar pra ver, e tenho a impressão que as soluções de Sip ficarão mais restritas a aparelhos de baixo e médio custo.
Certamente, Juliano!
O nível da falta de informações sobre o SiP, chegou a falarem que a falta de suporte ao Antutu,era pq o sistema poderia queimar,se rodar o app..Sério tem gente dizendo coisas absurdas sobre essa tecnologia..
Estou feliz pelo AP deixarem as coisas bem claras, ótimo artigo.
Muito bacana esse artigo, bem interessante mesmo, com informações super importantes a respeito das diferenças entre Sip e Soc.