Spotify HiFi: quem sai ganhando com o novo plano?
O Spotify HiFi chega neste ano, e com ele uma opção de alta qualidade de som do serviço de streaming, a um preço superior, pelo menos nos mercados inicialmente selecionados. Mas será que os artistas vão se beneficiar disso? Será que o Spotify está priorizando corretamente o seu desenvolvimento? Receio que ambas as respondidas sejam negativas.
Quando a transmissão Stream On — evento anual do Spotify — aconteceu na semana passada, a gigante sueca do streaming tinha muitas novidades para anunciar, como o recém-lançado podcast com Barack Obama e Bruce Springsteen. Do ponto de vista tecnológico, no entanto, a notícia mais interessante foi provavelmente a de que o Spotify HiFi está previsto para chegar aos primeiros mercados neste ano, o que já é tempo, uma vez que os concorrentes já oferecem tais planos há muito tempo. Aliás, o próprio Spotify está testado esta opção em pequena escala há quatro anos.
Nós usuários vamos nos beneficiar do Spotify HiFi?
Então, sabemos que o Spotify HiFi está a caminho. O que realmente ainda não sabemos: será que precisamos da prometida qualidade superior? Os tempos mudam, o consumo de música muda. Quem está satisfeito com suas músicas nos alto-falantes do smartphone obviamente não precisa de uma opção HiFi. Mas e quanto ao resto?
Você realmente ouve uma diferença tão grande no seu equipamento em casa para justificar um upgrade? E quando está na rua com fones de ouvido ou alto-falantes Bluetooth? Recentemente tivemos a nossa pesquisa da semana sobre o tema de streaming de música, e a nossa comunidade afirmou preferir ouvir música por streaming e nos fones de ouvido.
Em conversa com funcionários de uma loja de áudio nos foi informado que o Bluetooth é suficiente para a reprodução de áudio de qualidade. Aliás, você pode conferir no site Digital Feed um teste ABX e entender do que estamos falando. Aqui, você pode trocar entre a qualidade normal e hi-fi durante uma música e descobrir se você percebe uma diferença e se ela é grande o suficiente para pagar a mais por isso.
E como ficam os artistas?
A indústria cultural foi atingida pela pandemia como nenhuma outra e, por tabela, os músicos foram particularmente afetados. Há um ano, eles estão privados da possibilidade (com algumas exceções) de ganhar dinheiro com shows e estão ainda mais dependentes do que ganham por outros meios.
Excursus: streaming como motor da indústria musical
Em 2019, o streaming de música representou 7,1 bilhões de dólares (cerca de R$ 40,30 bi), ou 63,6% da receita total da indústria da música, que totalizou 11,1 bilhões de dólares (R$ 63 bilhões, fonte: atlasvpn). Apenas para comparação, em 2009, a receita de vendas de CDs foi de US$ 4,3 bilhões (R$ 24,4 bi) e 55,2% da receita total da indústria, e dez anos mais tarde isso caiu para US$ 614,5 milhões (R$ 3,48 bi), uma participação de apenas 5,5%.
Isso significa que o streaming é um poderoso ganha-pão em comparação com os anos em que a indústria da música estava em baixa devido a todos os downloads ilegais de MP3. Mas há um problema: a grana muitas vezes não chega aos artistas, uma combinação dos preços baixos pagos por transmissão e os muitos outros profissionais com direito a uma fatia da bolada.
Também vem do atlasvpn esta visão geral dos valores médios que os vários serviços pagam por música tocada, embora sejam estimativas. Vale lembrar que o valor pago muda de acordo com o artista, o país onde a música foi escutada, etc. Abaixo, você confere a lista dos valores expressos no estudo, mas convertidos do dólar para o real:
- Napster: R$ 0,052 por stream;
- Apple Music: R$ 0,038;
- Deezer: R$ 0,032;
- Amazon Music: R$ 0,024;
- Spotify: R$ 0,020;
- Pandora: R$ 0,012;
- YouTube: R$ 0,0087.
Olhando a lista, podemos ver muito bem que existem concorrentes como a Apple Music que gastam significativamente mais por música tocada. Agora, isto leva a outra questão em relação ao novo plano HiFi:
Se o Spotify cobrar, digamos, R$ 25 por mês (ou "24,90", a empresa não revelou valores até o momento) pelo seu plano HiFi, qual é o custo extra que Spotify tem com ele, e existe aí uma diferença com a qual o artista saia ganhando? Resposta decepcionante: no momento não podemos responder. O Spotify não costuma revelar detalhes sobre como paga os artistas e tenho a impressão que preferem reservar essa possível diferença para seu próprio lucro e não necessariamente repassá-la para os músicos.
Então, se você me obrigasse a responder se os artistas se beneficiarão com a chegada do Spotify HiFi, eu diria "não". Como consumidor, amo o Spotify e há muito tempo uso o serviço. Lá encontro música sem fim, escuto as coisas que gosto há muitos anos e descubro coisas novas o tempo todo.
Outros benefícios
Por outro lado, temo que o Spotify não tenha como preocupação principal o bem-estar dos músicos, por mais que se esforcem em que acreditemos nisso. O fundador e CEO do Spotify, Daniel Ek, deu recentemente uma entrevista aos colegas do The Verge, na qual também comentou sobre a remuneração. Ele disse:
“Acho que você vai ver as plataformas fazendo uma distinção entre oferecer uma opção única, não apenas em termos dos criadores ou como eles pensam sobre seu público, mas realmente sobre como você pode aumentar seu público, se envolver com eles, transformá-los em fãs e criar novas e importantes maneiras de monetizar essa base de seguidores.”
Traduzindo, não se trata apenas de dinheiro, você também pode ajudar os artistas fazendo com que seu público cresça. Por isso, o Spotify quer fornecer o palco que permite aos músicos ganhar novos seguidores e, por tabela, ganhar mais dinheiro.
Claro, uma empresa não tem de se desculpar por querer ganhar dinheiro. Mas não engulo o argumento do Spotify de colocar o bem da classe musical em primeiro lugar.
Acima dos artistas e usuários
Quando o Spotify anunciou no final de 2020 um sistema que permitia influenciar o algoritmo de sugestões, uma coisa ficou clara: a ferramenta aumenta a visibilidade dos artistas, mas paga menos por isso. Com este recurso, uma espécie de sistema de classes é criado, e quem sai ganhando com ele certamente não é quem gravou a música.
Em geral, é preciso ser cético em relação ao sistema do Spotify se você espera dar a cada artista exatamente a mesma chance de alcançar seu público. Há histórias curiosas sobre como o algoritmo do serviço já foi enganado, e a gigante sueca de streaming nem sempre foi capaz de evitar isso. Lembro de uma banda que gravou um álbum com nada. Faixas de trinta segundos que não ofereciam nada além de silêncio. Só mais tarde, a empresa foi capaz de garantir tecnicamente que este truque não funcionaria mais.
Fica mais difícil quando existe uma verdadeira indústria oculta que garante que os artistas, especialmente os rappers, possam ser turbinados nas paradas pelos seus empresários. No entanto, este problema não é exclusivo do Spotify, mas que afeta também outras plataformas.
Há ainda outro problema já apontado na plataforma: o chamado "Mysterycore" no qual artistas genéricos e desconhecidos obtêm números de reprodução surpreendentemente altos. Através de brechas de segurança, foram geradas transmissões por usuários que, no final do ano, se perguntavam porque músicas que nem conheciam apareciam em suas listas anuais de músicas mais ouvidas.
Estes são fenômenos pelos quais o Spotify não é responsável, claro, mas que tornam o negócio da música mais difícil e menos transparente para os artistas. O Spotify é culpado, no entanto, pela forma como as canções são produzidas. O algoritmo estimula que as músicas se tornem mais curtas e uniformes, e mais do que isso, que os primeiros segundos da faixa já exponham o máximo do que a música tem a oferecer.
Em vez de algumas canções longas, mais canções curtas são produzidas agora. Isto também foi algo que Daniel Ek pediu explicitamente. Em uma declaração muito criticada, o fundador do Spotify simplesmente exigiu que os artistas se esforçassem mais para aumentar a produção.
A moral da história?
Onde quero chegar com tudo isso? Falamos sobre o Spotify HiFi e que este plano mais caro está para chegar. Falamos de coisas que estão indo mal no Spotify e na música em geral. Minha conclusão de tudo isso é que a empresa ou não se importa ou está por trás do que acontece.
Você até já deve imaginar sobre o que vou tratar a seguir. Na sua opinião, os artistas irão realmente se beneficiar do Spotify HiFi? Pelo que sabemos sobre a empresa, eles podem até ajudar os músicos com novos recursos, mas vão cobrar um preço por isso. A empresa sabe melhor do que ninguém que a música sempre existirá (afinal de contas, ela não pode parar), mas as práticas comerciais do Spotify podem por fim às carreiras de muitos artistas, e também representar um risco à criatividade.
Deixo aqui minhas últimas perguntas: você acha que o mundo da música está realmente diferente e que ouvimos mais playlists do que álbuns? No final das contas, você pagaria mais por mês ao Spotify para uma melhor qualidade que talvez nem repare? Ou será que este é realmente um recurso que vai influenciar nos ganhos dos artistas?
Tenho que admitir que me sinto um dinossauro da música, ouvindo álbuns inteiros e colecionando vinis. Como é para você? Faço parte de uma espécie em extinção ou só estou sendo pessimista? Dê a sua opinião nos comentários e sinta-se à vontade para dizer o que pensa sobre a situação.
Depois dos sensacionais micro sds, tenho todo meu arquivo musical neles, acredito que esteja em 12 GB. Está certo que alguns smartphones estão vindo sem o slot para o uso desses dispositivos de armazenamento móveis, mas mesmo assim, tenho. Agora, essas plataformas de música por streaming também é bem interessante.
Eu coleciono CDs. Apesar disso, também uso o Spotify. Eu já experimentei muitos serviços de streaming. Acabei voltando para o Spotify esse ano, por conta do viés social da plataforma. Apesar disso, é decepcionante observar esse comportamento, tentando encaixar os músicos em uma espécie de “linha de produção”, onde interferem no processo criativo dos músicos, gerando faixas que são comprometidas por essa política de lucro acima de tudo.