Atualizar o Android em um smartphone demora mais do que parece
Se você acompanhou o primeiro artigo sobre esse assunto semanas atrás, está na hora de saber como termina a jornada do pequeno Android em busca de sua atualização. Vimos como é o começo do processo de atualização de um smartphone. Como é ele sair da Google e chegar ao fabricante. Depois, eles fazem muitas modificações, adequações e testes. Mas e depois?
Cada sigla importa
Bem, depois começa uma parte que nós nem imaginamos, e que é uma das mais demoradas. As certificações. Mas o que é isso? Bem, praticamente cada fabricante de cada componente que tem no smartphone precisa certificar que o Android desenvolvido pela empresa está de acordo com as regras dela.
Vamos pegar Bluetooth, WiFi, GPS, NFC, MMS (que você não usa mais, mas que continua tendo no smartphone), processador, placa gráfica, sensor da câmera, sistema de som, tecnologia do display... para ficar no básico, nas coisas que nós conhecemos.
As fabricantes de todos esses componentes e tecnologias precisam receber os aparelhos que serão atualizados, com o Android atualizado e rodando liso, pra certificarem que o componente ou tecnologia delas está funcionando de acordo. Para garantir, por exemplo, que uma antena não está emitindo mais radiação do que o normal e com possibilidades de fritar sua cabeça em uma ligação.
Cada empresa pega, testa, passa por vários departamentos, precisa esperar aprovação. E, lembrando o que eu disse no outro artigo, são os aparelhos de cada país, que também têm suas normas específicas. E é o mesmo fabricante para diversas marcas, então é uma avalanche de aparelhos.
E pode ser que não aprovem de primeira. Ou seja, volta tudo para a fabricante, eles mexem de novo, e nesse meio do caminho pode quebrar o que tinham feito para outro componente, ou uma função do sistema, e será preciso ter que mexer em tudo de novo. É uma loucura que pode levar meses de vai a volta.
Operadoras também palpitam
Ufa, mas agora acabou, né? Não. Agora partimos para as operadoras, pois elas também pedem customizações nas versões que vendem. Então um mesmo aparelho, por exemplo, só aqui no Brasil, pode ter a versão de varejo, a da TIM, da Claro, da Vivo... para ficar nas maiores. E são diferentes, precisam ter suas certificações.
Hoje em dia operadoras fazem menos isso, mas elas querem colocar pacotes de apps, telas de fundo, serviços de chip SIM. E depois de feito isso, cada uma quer receber cada aparelho para fazer testes em suas redes e garantir que não há queda de conexão, erros de rede e outros. E lá se vão mais umas semanas.
E isso custa dinheiro. Todo esse tempo e o emprego de equipes para todos os lados é custoso. Pode ser que em algum momento alguém não queria aprovar um aparelho por falta de tempo e de dinheiro. Pode ser a fabricante? Pode, mas pode ser também uma decisão de fabricantes de componentes, operadoras e outros envolvidos que seu aparelho fique sem atualização.
E, claro, não podemos nos esquecer da Anatel. Os aparelhos também passam por ela para testes que avaliam uma série de padrões de rede, conexão e segurança. Todos os aparelhos celulares comercializados no Brasil precisam passar por esse órgão regulador, e cada aparelho custa uma fortuna para ser testado e receber o necessário selo da Anatel.
Mas agora acabou, né? Sinto dizer, mas não. Quando está tudo azeitadinho na fabricante, nas donas de componentes e tecnologias, nas operadoras e suas redes, em cada país, vem o senhor do castelo. Chega a hora da Google pegar os aparelhos para garantir que não acabaram com o Android e que está tudo como suas diretrizes pedem.
E aí tem mais parte complicada. Se cada fabricante de componente recebe muito aparelho, imagina a Google, que está em todos os aparelhos Android do mundo? Ela recebe catadupas de aparelhos pra aprovar. E qual escolher? Bem, os que forem melhores pra empresa, os que forem vender mais.
A Google não pega um aparelho, mexe nele por uma hora e fala que está ok. Eles vão verificar tudo detalhadamente, cada aparelho variante e cada modelo. Operadoras e também a Google (e até a fabricante) podem e provavelmente vão decidir por deixar os smartphones mais antigos para o final da fila, porque os outros são mais interessantes comercialmente falando.
E não há nenhum monstro aqui. Todas essas empresas envolvidas funcionam na base do lucro. Se fosse você, priorizaria o que te traz mais dinheiro ou não? Empresas funcionam no mundo capitalista, é o que pode acontecer.
Muitas pessoas envolvidas
Bem, por tudo o que eu contei até agora, deu para perceber que tem muito mais gente, tempo e recursos envolvidos do que você imaginava. Dá pra dizer fácil que a atualização do Android de apenas um aparelho passa, por no mínimo, umas 300 pessoas.
Não estou falando que é pra você aceitar tudo calado, mas veja que algumas semanas não são o suficiente. Mas esse também não é o fim do mundo. Primeiro porque, mesmo sem ter o sistema atualizado, alguns aparelhos recebem updates menores, corrigindo bugs e falhas graves, e ainda atualizações de segurança, que trazem novidades nessa categoria.
E tem também o fato de o Android ser um sistema modular, que está sempre se atualizando, basta você observar melhor. Na Play Store você pode ver que, vira e mexe, são atualizadas coisas como o app da câmera, galeria, app do telefone, teclado, app do email e outros.
Atualizar esses pedaços é também ir atualizando o Android como um todo. Você, mesmo com um aparelho antigo, pode receber algumas funções de aparelhos mais novos com essa modularidade de apps. A Asus, por exemplo, é uma das empresas que mais fragmenta a atualização do seu sistema.
Tem que considerar tudo isso junto com campanha de marketing, estudar quando o concorrente vai soltar a atualização dele, fazer pesquisa de mercado pra buscar as funções mais pedidas, testar junto com os usuários, fornecer beta pra desenvolvedores e usuários que querem ajudar... é coisa demais.
O processo eu acabo por aqui, mas ainda tem coisa pra explicar pra vocês. Falar sobre a comunicação das marcas com os usuários, sobre o Android puro como solução (ou não), ROMs personalizadas, iOS e muito mais. Fiquem de olho.
Ok, é tudo muito burocrático, cheio de empresas envolvidas, etc e etc.
Mas não vejo toda essa burocracia com o Patch Tuesday do Windows, que é sempre mandado toda 2ª terça-feira do mês para todo mundo, seja Surface ou qualquer PC de OEM (tem exceções, mas muito específicas). Até mesmo as major updates do Windows 10 não atrasam tanto para os computadores mais atuais ou para os outros computadores (tá, o Windows não é tão customizável e tals, mas ainda assim possui uma logística que poderia perfeitamente ser aproveitada pela Google para melhorar o processo de atualização do Android).
Tudo bem, as certificações com a Wi-Fi Alliance, Bluetooth, etc, fazem parte do processo. Não tem muito o que fazer.
Mas não tem necessidade de operadora ficar pentelhando em todo o pacote.
Se o Android fosse melhor esquematizado, a Google cuidaria de tudo (o que é o ideal), as fabricantes cuidariam apenas de suas customizações, e as operadoras cuidariam apenas de seus extras. Não tem que depender de modificações das fabricantes e de conteúdo extra (muitas vezes desnecessário) das operadoras pra atrasar todo o processo.
O problema é o Android ter um pacote distinto para cada dispositivo ao invés de ser um pacote global, adaptável a qualquer especificação de hardware.
de novo?
Será que com o projeto Treble as atualizações não serão bem mais rápida e talvez até englobar mais modelos de telefones com especificações mais modestas?
E quanto às ROMs customizadas, será que também não serão agilizadas com o Treble?
É difícil enxergar perspectivas de mudanças, se a ROM embarcada nos novos aparelhos ainda for majoritariamente de propriedade das próprias fabricantes ou dos desenvolvedores de Custom ROMs.
O Projeto Treble parece muito bonito e eficiente na teoria, mas se não for bem aplicada, só vai ter sido uma troca de 6 por meia-dúzia, uma perca de tempo!
Por isso optei por comprar um Nexus 5X.
Que já está ficando defasado! hehehehe
Isso é fato e a burocracia é a grande culpada porque, ainda que com bugs, assim que lança o Android leva dias para que saia uma Lineage meio que estável, entendo que são necessárias modificações e correções, mas atualizar não é um trabalho tão difícil.
Por isso eu tenho um pouco de esperança no Project Treble, teoricamente esse processo de compatibilizar o Hardwere, software, legislação e a operadora será feito uma vez e , no mínimo, diminuir essa longa espera pela atualização, eu mesmo acho que atualização só ano que vem, e olha lá
E põe trabalho nisso, visto que cada fabricante tem o seu sistema, não totalmente diferenciado, digamos que, parcialmente, e daí que ele seja formulado para as quais não usam o Android puro, demanda muito tempo, até que ele, o sistema, possa rodar perfeitamente nos dispositivos.
A coisa já começa errado aí.
OEM não tem que meter o bedelho mais do que deve.
A Google as deixa fazer coisas que na realidade nem são (ou deveriam ser) de responsabilidade delas.
E pra piorar, isso já é feito desde 2007.
Ou seja, reparar 10 anos de erros está longe de ser uma tarefa simples.
A demora na atualização custa às empresas a perda de fidelidade de clientes insatisfeitos. A demora na atualização do Moto X Play me fez pensar duas vezes antes de comprar um novo Motorola, assim como um numero grande de pessoas que conheço e, igualmente, irritaram-se com o fabricante.
A pergunta que ficou foi:
- Vale mesmo a pena investir num novo aparelho desse fabricante e acabar num outra espera sem fim?
No meu caso, assim como no de vários outros, a resposta foi: NÃO! E assim a empresa perdeu um cliente fiel, até aqui.
Não é tanta gente que se preocupa com isso quanto pode parecer.
Acredito que quem não tem costume de navegar em sites de tecnologia ou sites que abordam sobre o mercado mobile sequer se preocupam com essas questões.
E não é pouca gente.
muita gente paga 4 mil conto em um aparelho pra durar apenas 2 anos por aí de atualização e suporte... fora que as att se seu aparelho for do ano anterior...vai esperar e muito
Mesmo sendo difícil, é obrigação da empresa que ela garanta os produtos atualizados!
Que ela garanta os produtos atualizados por um tempo determinado, você quer dizer.
Uai, mas isso elas já fazem!
Acho que não fui claro. Quis dizer que as empresas devem manter os aparelhos atualizados por mais tempo ( ex: 3 anos no mínimo)
As empresas, não.
A Google!
Pra todos os aparelhos que rodam Android Marshmallow ou superior (eu ia falar Lollipop, mas aí já ia complicar as coisas), independente se é Pixel, Android One ou outro tipo de aparelho.
O próprio aparelho não consegue monitorar níveis de radiação emitida, percentual de tempo conectado na rede da operadora x numero de quedas, exceptions, etc?
Atualiza o SO e bota o aparelho rodando em laboratório por X semanas capturando todas essas metricas, se estiver tudo ok, solta o release para os usuários que se inscreverem como beta testers, se der merda faz downgrade, se não, libera para mais uma leva de beta testers até que todos os bugs mais comuns estejam identificados e corrigidos.
Então solta a nova versão para a primeira leva de usuários "normais" e acompanha, solta para a leva seguinte e acompanha...
Quanto as customizações das operadoras, o caminho mais curto sempre é preparar tudo como aplicativo e jogar na playstore, força o download se for possível, oferece vantagem pra quem instalar, etc. Até a Samsung que enfiava suas customizações dentro da ROM do aparelho já se converteu para esse caminho e agora libera tudo em forma de aplicativo na playstore
Aí um Nerd praticamente sozinho faz uma custom ROM redondinha pra aparelhos que rodam no mundo todo e o sistema fica tinindo
Quem dera se isso fosse uma verdade absoluta!
Tanto trabalho para dar entre 1 a 2 anos de suporte.