Review do Motorola Defy: em busca de um nicho
O Motorola Defy é a volta de um nome que foi um dos pioneiros entre os smartphones Android resistentes, à prova de água e poeira em 2010. Passados 11 anos, a Lenovo se uniu à britânica Bullitt — responsável pelos celulares CAT e Land Rover — para reviver essa história, mas será que o aparelho traz algo que se destaca em um mercado que incorporou termos como IP68? É o que tentamos descobrir neste review do Motorola Defy.
Prós
- Boa autonomia de bateria
- Botão adicional para atalhos rápidos
- Boa pegada
- Dispensa capas
- Tela com Gorilla Glass Victus
Contras
- Uso com uma só mão é inviável
- Conjunto de câmera limitado
- Grande e pesado
- Bordas grossas em volta da tela
- Android 10 (em set/2021) e 2 anos de correções de segurança
- Sem bateria removível
Motorola Defy (2021) direto ao ponto
Ao anunciar a nova linha Defy, a Motorola parece apelar para a nostalgia, mas o lançamento pode não ter tido o efeito esperado. Até mesmo na redação do NextPit, pouca gente se mostrou interessada na novidade — não por acaso só os dois editores que tiveram a primeira geração do modelo (incluindo este que vos fala).
De qualquer forma, diferentemente da primeira geração — que compartilhava boa parte das especificações com o Moto Milestone (literalmente o porta-bandeira do Android 2.0) —, o novo Defy tem origens bem mais humildes. O modelo 2021 (com o identificador XT2083-9) compartilha praticamente todas as especificações com o Moto G9 Play (XT-2083).
Para diferenciar o modelo do G9 Play, a Bullitt reforçou toda a parte externa do aparelho, adotando o Gorilla Glass Victus na tela e um revestimento duplo na carcaça plástica que dotou o aparelho não apenas com a certificação IP68, como também com a certificação MIL-SPEC 810H para variações de temperatura e vibração.
Infelizmente, o modelo não tem previsão de lançamento no Brasil, já que é vendido pelo grupo Bullitt. Caso a filial brasileira da Motorola anuncie a venda do Defy no país, atualizaremos este review.
Tela e acabamento: LCD HD e Gorilla Victus
Para quem se lembra do Defy original, o tamanho do novo modelo é uma das primeiras coisas que chamam a atenção. Enquanto o Defy original tinha uma tela de 3,7 polegadas (e o tamanho aproximado do iPhone 4), o novo celular se destaca pela grande tela de 6,5 polegadas herdada do Moto G9 Play. Do original, volta o acabamento levemente emborrachado nas laterais e na traseira.
O que gostei:
- Acabamento não pega manchas e tem boa pegada;
- Gorilla Glass Victus, certificações de resistência;
- Permite usar alças e correntes;
O que não gostei:
- Pesado e grande;
- Bordas grossas em volta da tela.
A tela traz especificações modestas, com resolução de 720 x 1600 pixels (270 DPI) e painel LCD com taxa de atualização de 60 Hz. O display é protegido com o vidro Gorilla Glass Victus, que é mais resistente contra quedas e riscos, ideal para a proposta do Defy.
Ainda na linha da resistência, a Bullitt reforçou a carcaça do aparelho, que deixa para trás as curvas nas laterais do Motorola em que se baseou para adotar ângulos retos. O material plástico é revestido com um acabamento levemente emborrachado, que além de não pegar manchas dos dedos, tem uma leve textura na traseira que ajuda na hora de segurar o aparelho.
Para aumentar a proteção da tela, as laterais do Defy têm um leve relevo em relação o componente, o que deve diminuir a chance de estragos nas quedas. Diferentemente do Defy original, o novo modelo não conta com tampas para as portas USB-C ou para fone de ouvido, e traz como adicional um orifício que permite usar alças, correntes ou outros acessórios com o celular (uma alça acompanhou o modelo enviado para teste).
Nem é preciso dizer que o reforço do celular aumentou consideravelmente o tamanho e peso do Defy em relação ao já grande Moto G9 Play, sendo que o peso de 232 gramas é quase o dobro do Defy de 2010 (118 g). O tamanho praticamente exige o uso com duas mãos, além disso, a posição dos botões deixa os controles de volume e o botão programável fora do alcance para quem está acostumado a segurar o celular pela parte inferior.
TL:DR: apesar das especificações modestas, não há nada de errado com a tela do Defy, que oferece boa visibilidade em qualquer ocasião e o vidro Gorilla Victus, o único porém talvez sejam as bordas grossas ao redor da tela, que talvez se justifiquem pelo reforço de proteção implementado. O "tratamento" de resistência ajuda na pegada do aparelho, mas por outro lado aumenta o volume e peso do já grande Moto G9 Play.
Como testar a resistência de um aparelho?
O que gostei:
- Resistência à água e poeira (IP68);
- Resistência à quedas (MIL-SPEC 810H);
- Resistência à riscos (Gorilla Glass Victus).
O que não gostei:
- Nada (mas testar a resistência à queda é assustador).
O ponto alto do Defy é sem dúvida todas as características de resistência da Bullitt/Motorola. Em um mercado em que muitos celulares já são resistentes à água — até mesmo alguns com tela dobrável, que mundo é esse? —, os principais diferenciais do Defy são a tela Gorilla Glass Victus, geralmente encontrada só em flagships, e a certificação MIL-SPEC 810H para "sobrevivência extrema, vibração e testes de queda".
Como esperado, o Defy aguentou tranquilamente uma imersão em água durante 30 minutos, ainda que a uma profundidade de apenas 30 cm. Já para testar as alegações de resistência à queda, derrubamos o aparelho de cerca de 1 e 1,7 metro. Alerta de spoiler: o vídeo dá uma ideia da performance do aparelho:
O além de continuar funcionando normalmente, o aparelho não apresentou qualquer dano na tela ou carcaça. Apenas algumas marcas do piso ficaram na lateral quadrada (a que inclui o ponto para usar uma alça), além de cortes minúsculos nos pontos de impacto, que ficam disfarçados graças ao acabamento opaco da carcaça.
Não consegui testar as afirmações de resistência a temperaturas extremas e variações rápidas de temperatura, mas segundo a fabricante, o Defy é capaz de operar em uma faixa entre -25 e 55 graus Celsius. Nem adianta pedir para usá-lo em uma câmara frigorífica...
Desempenho abaixo de rivais mais velhos
O Defy (2021) é equipado com um processador Snapdragon 662, 4 GB de memória e apesar de se tratar de um SoC intermediário defasado, ainda é suficiente para as tarefas diárias.
O que gostei:
- Não apresentou problemas de superaquecimento.
O que não gostei:
- Processador defasado;
- Alguns engasgos ocasionais no uso diário.
Mesmo assim, o processador de 11 nm já dá sinais da idade, durante o uso, em pelo menos duas situações o navegador Chrome apresentou travamentos temporários sem motivo aparente. Além disso, o modelo fica não só atrás de celulares como o Galaxy A51 — que possui hardware semelhante ao robusto Galaxy XCover Pro —, como também da nova safra de aparelhos intermediários como o Edge 20, equipados com a linha Snapdragon 778G, neste último caso, com uma diferença de desempenho de quase 7 vezes no teste 3DMark e duas vezes em processamento geral:
Benchmarks
Motorola Defy | Samsung Galaxy A51 | Xiaomi Redmi Note 10 | Motorola Edge 20 | |
---|---|---|---|---|
3DMark Wild Life | 370 | 853 | 482 | 2.492 |
3DMark Wild Life teste de stress | 376 ~ 379 | 596 ~ 856 | 482 ~ 483 | 2.461 ~ 2.494 |
GeekBench 5 (single / multi) | 314 / 1.354 | 348 / 1.265 | 527 / 1.653 | 768 / 2.776 |
PassMark RAM | 13.126 | 12.829 | 18.645 | - |
PassMark Armazenamento | 34.309 | 34.829 | 38634 | - |
Ao menos o Defy não mostrou sinais de superaquecimento, mostrando um desempenho estável no teste de estresse do 3DMark (ainda que baixo) e nos games testados como Call of Duty Mobile ou Free Fire, só não pense em jogar com a qualidade máxima para garantir uma taxa de quadros estável
TL:DR: a relação custo-desempenho não é o forte do novo Motorola Defy, herdando as configurações de um modelo que já não era competitivo com outros celulares intermediários em 2020, o Defy não fica atrás do rival direto Galaxy XCover Pro, que já tem 20 meses de mercado.
Câmera de celular básico
O conjunto de câmeras do Defy adota a conhecida receita de grande-angular/macro/profundidade bastante popular entre os celulares de entrada. E as resoluções de 48, 2 e 2 megapixels respectivamente já não deixam muita margem para otimismo. Mas como será que o Defy se sai no mundo real?
O que gostei:
- Selfies naturais.
O que não gostei:
- Conjunto pouco versátil;
- Câmera macro serve apenas para figuração;
- Imagens borradas na câmera principal;
O Defy de 2010 não era exatamente um primor de câmeras e o de 2021 não é diferente, provavelmente outra influência do Moto G9 Play. As fotos da câmera principal não são tão nítidas ao serem analisadas no tamanho original, com uma tendência a suavizar ou borrar levemente a imagem. Ao menos a reprodução de cores parece natural, evitando os exageros na saturação que algumas fabricantes usam no processamento.
Como tradicionalmente acontece com os sensores de alta resolução, cada pixel é o resultado da combinação de quatro pontos do sensor, gerando uma imagem com 12 megapixels (4000 x 3000 pixels).
O Defy inclui apenas uma câmera macro como adicional, além do sensor de profundidade. A resolução de 2 megapixels do sensor macro resulta em fotos sem a definição suficiente para impressões, mas talvez seja o suficiente para compartilhamento em apps de mensagens.
Já o modo noturno Night Vision requer o uso de tripé — ou mãos muito firmes —, o sensor captura 4 segundos de imagens antes de processar a foto gravada. Pessoalmente, achei que o resultado exagerou no clareamento de cena, mas o recurso ao menos consegue mostrar objetos que ficariam escondidos nas sombras caso fosse desligado. Com ou sem Night Vision, no entanto, as fotos com pouca luz deixam ainda mais claras as limitações da câmera principal em termos de nitidez.
Quanto às selfies, os resultados com a câmera frontal foram melhores do que esperava, com um resultado natural — ainda que o modelo não colabore — e especialmente sem o pós-processamento exagerado encontrado em alguns aparelhos, caso do Moto G30. O modo retrato também funcionou bem, com um leve desfoque na orelha e nas alças da máscara.
TL:DR: o conjunto de câmera herdado de um modelo básico mostra suas limitações no Defy, com os sensores adicionais de 2 megapixels servindo basicamente para fazer número no conjunto traseiro. As fotos da câmera principal são perfeitamente usáveis para compartilhamento em redes sociais, mas não tanto para impressões ou ampliações. Já as selfies se saíram melhor do que o esperado, com fotos nítidas e sem a suavização artificial da pele.
Bateria grande, mas recarga de apenas 20 W
A bateria e o sistema de carregamento é um dos pontos em que a Bullitt poderia ter diferenciado o Defy do Moto G9. O celular manteve a bateria de 5.000 mAh e a potência de recarga máxima de 20 Watts.
O que gostei:
- Boa autonomia de uso;
- Carregador incluído (20 W).
O que não gostei:
- Carregamento não tão rápido;
- Bateria não removível para a categoria;
- Sem recarga sem fio.
Com uso moderado, o Defy aguentou facilmente mais de dois dias de autonomia, o que não surpreende em um aparelho com resolução HD, processador intermediário e a capacidade generosa de bateria. Como referência, o aparelho registrou 18h13min no teste PCMark Battery Life, que simula uma bateria de processamento contínua entre 80 e 20% de carga do aparelho.
Na hora de carregar, porém, ele mostra a idade do projeto. Uma recarga completa leva cerca de duas horas. 5 minutos na tomada com o carregador TurboPower de 20 W foram suficientes para 4 a 5% de carga, 20 minutos renderam 20 a 23% de capacidade e uma hora deixou a bateria com cerca de 63% de carga.
Um detalhe que talvez não importe para a maioria das pessoas, é o fato da bateria não ser removível, algo que seu concorrente direto Samsung Galaxy XCover oferece, por exemplo, e pode interessar para empresas procurando um celular para suas equipes de trabalho.
TL:DR: a autonomia é provavelmente um dos destaques do Defy, com um bom tempo de funcionamento. Já o sistema de carregamento com fio é o já conhecido TurboPower da Motorola, que ao ser lançado podia ser considerado um diferencial, mas hoje em dia ficou bastante para trás, principalmente por se tratar de um aparelho de um conglomerado chinês.
Ficha técnica e outras informações
Listo abaixo outros pontos que podem interessar à comunidade NextPit, mas não valem parágrafos adicionais:
- O Motorola Defy inclui NFC e é compatível com o Google Pay para pagamentos por aproximação;
- Após a redefinição do aparelho atualizado, o sistema indicava 20,36 GB de espaço utilizado;
- A embalagem do aparelho testado incluía o carregador de 20 W, cabo de recarga, ferramenta de abertura da bandeja SIM e uma alça;
- A versão de software durante o teste foi a QZD30.57 (2021/jun);
- A Bullitt/Motorola prometem 2 anos de atualizações de segurança para o aparelho, que na data do teste tinha o Android 10 como a versão mais atual do sistema.
Ficha-técnica
Motorola Defy (2021 / XT2803-9) | |
---|---|
Processador | Qualcomm Snapdragon 662 (jan/2020) 11 nm (Samsung 11LPP) 4x Kryo 260 Gold (Cortex-A73) @ 2.0 GHz 4x Kryo 260 Silver (Cortex-A53) @ 1.8 GHz |
Memória | 4 / 64 GB Expansível com cartão micro SD |
Tela | LCD de 6,5 polegadas 720 x 1.600 pixels (HD+) 60 Hz Gorilla Glass Victus |
Câmera | Principal de 48 MP | f/1.8 Macro de 2 MP Sensor de profundidade de 2 MP Selfie de 8 MP |
Bateria | 5.000 mAh Carregamento com fio de 20W |
Conectividade | Bluetooth 5.0 | NFC | WiFi 5 (11ac) | 4G |
Dimensões | 169.8 x 78.2 x 10.9mm |
Peso | 232 gramas |
Características especiais | Certificação IP68 e MIL-SPEC 810H |
Sistema operacional | Android 10 (atualização para Android 11 anunciada) 2 anos de correções de segurança |
Cores | Preto e verde |
Preço | € 329 não disponível no Brasil |
Conclusão: qual o público alvo do Motorola Defy?
O Motorola Defy 2021 é um celular curioso, que tenta se apoiar na nostalgia de um grupo muito pequeno de pessoas — ao contrário do Razr, ou dos Nokias retrô, por exemplo. Para complicar a situação, foi lançado em um mercado que já tem opções interessantes da Samsung e da Bullitt, empresa que desenvolveu as adaptações de resistência para a Motorola/Lenovo, além do recém-lançado Nokia XR20.
Enquanto os aparelhos CAT e Galaxy XCover são posicionados mais para empresas, o Defy não parece uma solução ideal para elas, com a promessa de apenas dois anos de atualizações de segurança, ou sem a opção de bateria removível oferecida na linha XCover (que inclui ainda a opção de carregamento via pinos Pogo), que também conta com a política de atualizações da Samsung por quatro anos, mesmo prazo prometido pela Nokia para o XR20 (que oferece ainda 3 anos de garantia e 3 atualizações de sistema).
Os materiais de divulgação do Defy dão destaque para esportes radicais, e talvez esse posicionamento explique a alça incluída na embalagem. Porém, esse é o mesmo público que fez fortuna para a GoPro (e para a DJI), o que deixa a impressão de que a câmera poderia ter recebido mais atenção das fabricantes, nem que fosse uma lente ultra-angular no lugar da supérflua câmera macro.
No final das contas, o próprio anúncio de lançamento parece indicar que o novo Defy é voltado mesmo para o público em geral que costuma perder seus aparelhos para acidentes no dia a dia. Mas neste caso, o preço sugerido de € 329 (R$ 2.080, em conversão direta) no mercado europeu é praticamente o dobro do praticado no Moto G9 Play ou G30, o que pode tornar mais vantajoso comprar um dos modelos citados com uma capa e talvez um seguro contra acidentes.
E é essa discrepância entre as especificações básicas e o preço de intermediário que tira pontos do Defy 2021 — ainda que ele seja mais barato que seus rivais resistentes da Samsung e Nokia na Europa. Não há nada de errado com o aparelho, mas para atrair o grande público, ele precisaria ter um preço condizente com suas especificações, algo que o Defy de 2010 tinha e que foi o motivo que me fez comprá-lo dez anos atrás.
Não sei por que vocês consideram a bateria não removível como um problema... Pra mim remover a bateria é um problema, visto que dessa forma qualquer pessoa pode desligar o seu celular apenas removendo a bateria (em casos de perda ou roubo) e que algumas fabricantes (e até apps como o Cerberus) oferecem proteção contra desligamento não autorizado (solicitando senha para desligar o celular)
Neste caso específico do Defy contou como ponto negativo pelo fato de concorrentes diretos como a linha Xcover oferecerem a opção. Ainda que o público em geral já tenha se acostumado com isso, para algumas empresas ainda é um ponto positivo.
Gadget de nicho , voltado ou para desastrados, motoboy, construção civil....., Motorola by Lenovo não me atrai.
Prefiro um aparelho que se quebre só de olhar pra ele do que esse suporte oferecido pela Motorola by Lenovo... Se for pra ficar no Android 10 continuo com a maldita Xiaomi aqui com meu Mix 3...
Que review top Rubens👍
Olha só como a Motorola ignora o potencial dessa linha de aparelhos, e não destina a mercados que absorveriam muito bem o Defy.
Os motoboys aqui no Brasil usam smartphones comuns presos a suportes improvisados para proteger seus celulares da chuva e vibração. Com esse modelo Defy sendo vendido por aqui, ele se tornaria o Rei dos aparelhos para motoboys. Um aparelho perfeito para a atividade dessa categoria de profissionais de entregas❗