O iOS 15 coloca o Android em crise existencial
A abertura da WWDC21 não trouxe nenhum avanço tecnológico extraordinário. No entanto, uma tendência para esta década tornou-se clara como poucas vezes, que pode jogar a concorrência em uma crise existencial. Se o Google e a Samsung não encontrarem uma resposta em breve, até ficarão com a maior fatia do bolo. Porém, as cerejas, o chocolate, as framboesas, os morangos, enfim, o que sobrar de mais gostoso ficará com a Apple.
Controle Universal: 1+1 = Mais
A Apple apresentou um novo recurso chamado "Controle Universal" com o iOS e iPadOS 15, bem como com a nova versão MacOS Monterey. Isto permite que um iPad, iMac ou MacBook seja operado como um só, usando o mesmo dispositivo de controle — ou seja, mouse ou trackpad. Os dispositivos só precisam estar conectados com o mesmo ID Apple via iCloud e de preferência um ao lado do outro.
Se for esse o caso, você pode usar o mouse do MacBook para controlar o iPad, por exemplo, e até mesmo trazer dados de um dispositivo para o outro. O Controle Universal funciona com até três dispositivos Apple. Até agora, tudo bem. Uma característica verdadeiramente útil, pode-se dizer.
O Google vê o Android como um meio para atingir um fim. Mas falta um ecossistema!
Em teoria, é claro, o Google é capaz de oferecer tal recurso. É que, infelizmente, falta à empresa um verdadeiro ecossistema. Vamos lembrar brevemente como e porque o Android teve tanto sucesso em primeiro lugar, e por que justamente o Google — que até então não tinha nada a ver com celulares até o lançamento do Android — não teve nada a ver com smartphones.
Primeiro, temos que lembra da posição precária que os fabricantes de celulares, assim como as operadoras móveis, se encontravam em 2008. O iPhone havia feito uma entrada triunfal no ano de sua estreia — e isto apesar do fato de que pessoas como Steve Ballmer (ex-CEO da Microsoft) preveram que o aparelho fracassaria.
A Apple tinha lançado o telefone mais caro até o momento com parcerias exclusivas. Na Alemanha, por exemplo, a Deutsche Telekom tinha exclusividade de distribuição do iPhone. A Vodafone foi deixada para trás — e perdeu muitos clientes neste período. Vale lembrar qua a primeira versão do aparelho não foi lançada no Brasil. Apenas em setembro de 2008 a Apple começou a vender a linha no país, já na segunda geração, o iPhone 3G.
O Google veio em socorro. Pouco antes, eles haviam comprado o sistema operacional móvel Android e o ofereceu aos fabricantes de aparelhos e provedores de telecomunicações através da Open Handset Alliance (OHA), em grande parte praticamente sem custos.
O Google havia dado um passo brilhante: praticamente da noite para o dia, o OHA abriu a oportunidade para a gigante das buscas tornar a internet móvel grande e automaticamente tomar a liderança do mercado.
Os anos 2010 foram a década do hardware. Agora vem a década dos ecossistemas.
O Android aproveitou sua ascensão por uma boa década. No final de 2017, 2,7 bilhões de pessoas estavam usando o Android — respondendo por pouco mais de 88% das instalações de smartphones em todo o mundo.
Foi o sistema operacional do Google que transformou pequenas empresas sediadas em Shenzhen em corporações globais, ultrapassando umas às outras em uma espiral de recursos com o hardware mais recente — e puxando a Apple pelo caminho. A gigante de Cupertino há muito deixou de ser inovadora, especialmente em hardware, mas seguiu as tendências.
Na sombra da competição pelos megapixels e pela carga rápida mais rápida, a Apple continuou trabalhando em outros lugares: no ecossistema. Sim, o iPhone pode ser responsável por uma pequena fatia de mercado em comparação com a concorrência do Android. Mas a Apple é a líder mundial em relógios de pulso (relógios mesmo, não apenas smartwatches), e também em tablets. E a Apple também está entre as cinco maiores fabricantes de PCs.
Na próxima década, o hardware vai ficar cada vez mais em segundo plano. A palavra chave será a "computação invisível", para o fato de que não interagimos mais com dispositivos específicos, mas com serviços. Se acessamos dados através de um assistente de voz, smartwatch ou televisão é irrelevante.
Em vez de investir em dispositivos dedicados, na era 5G confiamos em ecossistemas que percebem e idealmente atendem nossas necessidades. E a Apple está agora em uma posição ideal para fazer exatamente isso.
Microsoft e Google: dois poderosos gigantes em um impasse
É claro que a mudança para os serviços não é uma novidade revolucionária. Não é por acaso que a Microsoft tentou desesperadamente voltar ao mercado de smartphones com a aquisição da Nokia, e sabemos que fim levou essa história. O Google fechou as portas, e usou seu poder sempre que necessário para bloquear a Microsoft.
Sem uma API adequada, o "app do YouTube" no Windows Phone nada mais era do que um atalho para o site do YouTube — você não podia nem mesmo avançar rapidamente ou retroceder os vídeos. Não é de se admirar que o público acabou migrando apesar dos ótimos aparelhos.
Por outro lado, o Google tenta abocanhar aos poucos o mercado de notebooks há anos. Claro, os Chromebooks ultrapassaram recentemente o MacOS em participação de mercado. Mas com o Chrome OS, os dispositivos simplesmente não são poderosos e versáteis o suficiente para serem uma alternativa séria.
A participação de mercado é resultado do baixo preço — e, sem dúvida, do fato de que muitos estudantes precisaram de notebooks baratos para as aulas nos últimos meses. Uma coisa é certa: em PCs o Google não tem muito como avançar.
Harmony OS: a ameça vinda da China
A situação atual com o Google e a China só vai exacerbar este problema. É previsível que o Android irá encolher. A Huawei e Honor migrarão (ou já migraram) para o sistema operacional Harmony para celulares, e possivelmente mais fabricantes chineses seguirão em breve — por medo ou devido a condições políticas por parte da China ou dos EUA. No final, o Android continuará sendo um sistema operacional da Samsung.
O quão real é esta ameaça da Apple e da China ficou visível no Google I/O. O Google e a Samsung fundiram os sistemas Tizen e WearOS com uma pitada de Fitbit. Assim, assumindo que as quotas de mercado entre os fabricantes do WearOS permaneçam constantes a partir de 2020, os daria em torno de 35 a 40% do mercado, logo à frente do watchOS da Apple.
Porém, a Huawei tem 11% de participação no WearOS, e o Grupo BBK responde por mais seis pontos e meio percentuais. Dados os números, a colaboração Google-Samsung é mais um casamento forçado na luta contra a perda de mercado.
Preços e mercados: uma olhada na bola de cristal
"Mas a Apple é muito cara", eu já posso ouvir você digitando. Sim: os produtos Apple têm preços de compra elevados. Embora o iPhone SE (2020) já tenha sido vendido por menos de R$ 2.500 em alguns casos este ano, a maioria dos iPhones tem um preço bem acima do preço médio dos celulares vendidos nos países onde está disponível.
Entretanto, se você basear o custo na depreciação ao invés do custo de aquisição, a matemática rapidamente parece diferente. De acordo com o gráfico acima do bankmycell, os celulares Android que custam mais de 700 dólares perdem 60% de seu valor original 24 meses após a compra.
Os iPhones, por outro lado, perdem apenas 35%. Para um iPhone que custa 1000 dólares, isto significa uma perda no valor de 125 dólares por ano após 24 meses. Um smartphone Android igualmente caro, no entanto, desvaloriza 200 dólares por ano.
Invertendo a matemática, um iPhone de 1500 dólares ainda vale US$ 975 após dois anos e teria "custado" US$ 525. A mesma desvalorização de 525 dólares resulta em 24 meses para um celular Android que custou "apenas" US$ 875 euros.
É claro: primeiro é preciso ter os 1.500 dólares, e o tema "por que é caro ser pobre" é um assunto grande demais por si só. Mas ainda que o iPhone SE (2020) mencionado no início infelizmente não se encaixe no gráfico com seu preço, o celular intermediário da Apple até o momento não deu sinais de que desvaloriza mais do que outros iPhones.
Para os topos de linha Android, os ponteiros do relógio estão andando
E por último, mas não menos importante, há também a questão do ecossistema em que você quer investir. Será que eu quero comprar todos os tipos de aplicativos e criar serviços para um ecossistema que pode não existir em cinco anos? Ou para o qual, dentro de cinco anos, as condições terão mudado de tal forma que não poderão ser utilizadas porque estarão tecnicamente ultrapassadas ou não serão mais capazes de proteger adequadamente meus dados?
Além das características já descritas acima, a Apple também anunciou novidades para proteção de dados — apenas para mostrar ao mesmo tempo em que direção caminha o iPhone. Nos EUA, em breve você poderá até guardar sua carteira de motorista na Apple Wallet.
Os dados são armazenados totalmente codificados em seu iPhone e você será capaz de se identificar em diversos lugares sem pegar a carteira ou bolsa. As redes de hotéis e fornecedores de casas inteligentes também confiarão em breve na tecnologia Apple para seus sistemas de acesso e portas.
Eu, por exemplo, não deixaria meus dados pessoais — e especialmente os mais sensíveis como chaves da porta da frente ou dados de passaporte — com a maioria dos fabricantes que ainda hoje dependem do Android. E você?
A Apple respondeu a essa pergunta. Agora é a vez de Google, Microsoft, Samsung e companhia.
Agradecimento: Stefan Möllenhoff.
gostei
Eu ia discordar do texto, mas depois pensando nesses boatos de que as fabricantes chinesas poderiam abraçar o HarmonyOS (independentemente de ser baseado no AOSP ou não, independentemente de fazerem isso por vontade própria ou por "força maior")...
Quem sobraria com o Android+Google Mobile Services se as chinesas pulassem do barco?
Samsung
Motorola (que deixou de ser relevante na Europa)
LG (brinks)
Asus
Sony (no Japão e Europa)
Sharp/Foxconn (no Japão)
e outras fabricantes locais (Positivo, Multilaser, TECNO, etc)
Rubens tenho lido muito sobre as sansões que a Google tem sofrido tanto na Europa quanto nos E.U.A. que a acusam de várias práticas anti-comerciais e por aí vai. Acho que a Google (na minha opinião), perdeu a mão e quer monopolizar toda a internet, bem como empurrar seus aplicativos e o sistema Android para os mais variados equipamentos. O Fabien deu uma introduzida nesse assunto, mas é lógico que a mídia ou os blogs não vão querer comprar briga com a Google, e muito menos insuflar isso nos seus leitores; mas quem está do lado de fora está percebendo toda essa situação de forma bem clara. Como vai continuar e/ou como isso vai terminar, é impossível arriscar.
O problema da Google sempre foi e sempre será sua fragmentação, em quanto ela não impor limites e tomar as rédeas sempre será um caos total, ela ate que ja vem tentando aos poucos como por exemplo com o projeto Treble, mas a mesma Google fica adiando tais mudanças ou dando limites e mais limites aos fabricantes e devs se adaptarem e isso vai sendo postergado a cada ano.
Ao meu ver o Google precisa otimizar mais o seu ecossistema, sempre foi o meu sonho, mas cada fabricante faz como bem entende. Nesse ponto a Apple domina, além da segurança ser maior, mas sempre gostei da liberdade do Google. Mas fundamentalmente precisa evoluir muito nesse sentido. Além de um maior rigor e limpeza de aplicativos inúteis na Play Store.
Independentemente disso, não há sistemas perfeitos, entretanto se pudesse unir otimização, segurança e mais autonomia de acordo com o que o usuário deseja, seria o melhor dos mundos.
Cada sistema tem os seus méritos e demeritos.
Sem a menor sombra de dúvidas a Apple possui um ecosistema "redondo" e integrado , feliz dos usuários que o necessitam e o possuem , o Harmony OS não é um OS novo e sim uma fork do Android, uma custom ROM , a explanação do editor sobre o WP é ridícula, fui usuário daquela bagaça, quem matou o OS foi a própria MS pois a cada nova versão do WP o anterior perdia totalmente o suporte , apps inclusive , quem usou sabe , nada a ver com o bla bla bla de falta de apps oficias como o YT.
Concordo que o android seja uma colcha de retalhos devido a fragmentação do OS , mas funciona , gostaria que o autor do post tentasse instalar sem gambiarras apps em um gadget com iOS legado , parado no iOS 12 por exemplo , difícil né!!
Eu consigo facilmente instalar apps atuais em um gadget rodando o Android 6 pela play store!!!
Utilizo os dois sistemas, e por enquanto nunca tive problemas no quesito segurança em apps bancários no android.
Sim , Google tem que evoluir e muito em criação de ecosistema robusto e outras coisas como recuperação de backup em gadgets , que no iOS é impecável.
Viva a concorrência.
Concordo em parte. Uso os dois sistemas, gosto dos dois, ambos tem suas vantagens e desvantagens. Com relação ao app de banco, recentemente tive meu roteador invadido, e instalado somente no aparelho Android uma alteração no app do banco, que para os mais desatentos, levava a uma página falsa da instituição. No iPhone o app não sofreu esta alteração. Em questão de segurança confio mais no iOS hoje, assim como confio mais no Linux do que no Windows nesse quesito. Mas em relação a uso em geral, os dois são excelentes sistemas, com elogios à versatilidade do Android, que é maior que a do iOS.
Uso ambos sistemas também e para mim a diferença em ambos é nítida, não considero o Android menos seguro (segurança que faz é o usuário), mas acho nítido o esforço e qualidade nos apps rodando no iOS, a Apple também "se esforça" em focar em privacidade mesmo alguns recursos sendo pura balela mas tenta, muita coisa vem sendo adotada no Android atualmente com o 11 e ainda mais com o 12 mas todas são vindas sem duvidas do iOS. Apps rodarem em Sandbox também a meu ver é uma vantagem absurda quesito segurança (tem os pontos fracos e limitações na hora de gerenciar arquivos) mas tudo tem seu preço e sinceramente a meu entender vale a pena. O próprio Google ja vem estudando a ideia de por apps em sandbox no Android também mas fica postergando por conta dos Devs reclamando.
Noooooossaaa...😳
Finalmente encontrei eco nos meus comentários sobre o combalido sistema Android.
P A R A B É N S pela sua linha de raciocínio, bem como por sua excelente explanação.
Fabien você merece uma salva de palmas 👏😃