Review do Nothing Ear (1): muito barulho por (quase) nada
Depois de uma exuberante campanha de marketing, será que o Nothing Ear (1) é realmente mais do que apenas mais um par de fones de ouvido sem fio TWS com ANC por menos de R$ 800? Nem tanto, mas será que isso é necessariamente ruim? A resposta você confere neste teste completo.
Prós
- Som correto e neutro
- Tamanho compacto e design elegante
- Recarga sem fio
- Cancelamento de ruído bastante eficaz
Contras
- Aplicativo limitado e controles de toque
- Sem codec HD
- O hype gerado pelo marketing foi muito maior que o resultado
- Duração média da bateria
Nothing Ear (1) direto ao ponto
O Nothing Ear (1), o primeiro produto da nova empresa criada por Carl Pei, o filho pródigo da OnePlus. Foi anunciado em 27 de julho e está disponível no primeiro mundo desde agosto de 2021 por um preço de 99,99 euros, cerca de R$ 620,00 em conversão direta.
E o fato é que os fones de ouvido devem ter vendido muito bem já que na data de publicação deste review eles estão fora de estoque na loja oficial e realmente não podem ser obtidos. Só os encontrei em pré-venda na Amazon alemã para entrega a partir de 19 de setembro.
A Nothing vende os fones Ear (1) na Colômbia e Chile, mas não tem previsão de chegada ao Brasil.
Isto não chega a ser surpreendente, pois pelo preço cobrado, o Nothing Ear (1) oferece um ANC correto, carregamento sem fio e certificação IPX4. No papel, e mesmo em uso, a relação custo-benefício é bastante sensata.
No entanto, o marketing pseudo-filosófico com citações sobre computação ambiental e os delírios em torno do design supostamente disruptivo e revolucionário desses fones francamente me deixaram querendo mais. E é aqui que, na minha opinião, a Nothing deu um tiro no próprio pé. O Nothing Ear (1) são bons fones de ouvido TWS, mas nada além disso.
Em resumo, quando você força um hype mirabolante e cria tanta expectativa, entregar um produto que seja "apenas" bom é bastante decepcionante na minha opinião.
Design: olhando através de você
O destaque pré e pós lançamento do Nothing Ear (1) é sem sombra de dúvidas o design. Foi o elemento mais dominante de sua campanha de marketing e talvez também o mais decepcionante.
Gostei:
- Formato semi-integrado, compacto e leve;
- Estojo magnético chama a atenção;
- O trabalho em torno da embalagem minimalista.
Não gostei:
- Visual lembra um Airpods Pro transparente, não é exatamente revolucionário;
- Uma pequena folga na dobradiça do estojo.
O Ear (1) se esforça muito para serem descolado. De qualquer forma, é disso que se trata, uma empresa que é tão moderna que nem precisa de um nome ou de se preocupar com seu horrível ranking do Google.
E, francamente, à primeira vista, funciona muito bem. Vamos começar com a embalagem, na qual a Nothing parece ter se dedicado bastante. A caixa é muito compacta, aproximadamente do tamanho de um baralho de cartas Yu-Gi-Oh! (desculpe pela referência) ou 50% maior que um maço de cigarros (desculpe novamente).
Você o abre rasgando uma aba como em uma embalagem de goma de mascar (o que mata um pouco o valor de revenda). Quase parece como desembrulhar um brinquedo ou presente.
O esteojo transparente mistura diferentes materiais com elementos metálicos na fechadurara e na dobradiça e um corpo de plástico branco que emula a superfície texturizada de uma bola de golfe. Tudo isso, é claro, em um invólucro transparente.
Fora uma pequena folga na dobradiça, o estojo parece sólido e a resistência ao fechar/abrir é bastante satisfatória. Os pontos magnéticos para fixar os fones de ouvido não são os mais ergonômicos, mas garantem uma fixação bastante estável.
Mas foi o design dos próprios fones de ouvido Nothing Ear (1) que me decepcionou. O formato de ajuste aberto é confortável e os fones de ouvido são muito leves com apenas 4,7 gramas. Mas sinceramente, remova o plástico transparente que cobre as hastes e aplique um revestimento branco opaco, e você terá mais um clone dos AirPods Pro.
Para uma marca que afirma ser pioneira em design e tem zombado corretamente de seus concorrentes por fazer mais do mesmo, parece até hipocrisia. Especialmente porque os líderes de mercado como Sony e seu WF-1000XM4 ou Samsung e seus Galaxy Buds Live oferecem um visual muito mais original.
Há alguns detalhes bonitos, claro; os pontos coloridos para distinguir o fone de ouvido esquerdo do direito, ou o nome do produto gravado que me faz lembrar os letreiros LED. Você pode ver que o interior foi projetado para ser bonito e que a Nothing usou apenas plástico transparente sem tocar em mais nada. Mas este visual é realmente assim tão inovador? Não na minha opinião.
Provavelmente é em parte culpa minha, porque fiquei tão entusiasmado com estes fones de ouvido, mas o Nothing Ear (1) forçou tanto na estratégia de descolada e "disruptiva" que chega a ser irritante.
O Nothing Ear (1) tem um design pensado para chamar a atenção. "Uau, eles são transparentes". E aparentemente o nível de exigência da marca em termos de qualidade de fabricação e seleção de materiais foi táo alto que tiveram dificuldade em encontrar fornecedores para algumas peças.
Além disso, há um pequeno espaço na tampa do estojo que permite transformá-lo em um fidget spinner... Tudo isso é ótimo, mas não passa de papo de vendedor na minha opinião. Há uma expressão em inglês para isso: try hard. A Nothing prometeu muito muito e não entregou o suficiente.
Qualidade de áudio: bom som equilibrado
Na parte sonora, o Nothing Ear (1) é equipado com drivers de 11,6 mm, com uma assinatura de áudio que se destina a ser o mais neutro possível.
Gostei:
- Som correto e coerente com seu preço;
- Assinatura de áudio plana e neutra;
- Suporte para Bluetooth 5.2.
Não gostei:
- Sem HD codec (mas bastante perdoável a este preço);
- Os graves não tem o impacto necessário.
Bem, eu não vou ser o tipo de hipster que conta a faixa de freqüência das músicas favoritas no Deezer. Sim, é bom quando um avaliador ilustra suas impressões com exemplos de canções ou mesmo passagens específicas. Mas cá entre nós, é um pouco esnobe demais e é especialmente supérfluo para um par de fones não-audiófilos na faixa de preço do Ear (1).
Vamos direto ao assunto. Usei o Nothing Ear com minha conta Spotify e ouvi as músicas em ogg vorbis a 320 kbps (com a configuração de qualidade "muito alta"). E o Nothing Ear (1) não é nada excepcional. A qualidade é melhor do que a de rivais mais acessíveis, mas é como o Airpods Pro, é um som de qualidade, nada mais.
A assinatura de áudio é equilibrada, de modo que nenhuma faixa de freqüência (graves-médios-agudos) é mais privilegiada do que outra. Isto é o oposto do que quase todos os concorrentes na Nothing nesta faixa de preços estão fazendo, que é exagerar nos graves.
Aqui, temos um som mais sutil. Os graves são muito dinâmicos, mas não estão presentes o suficiente para o meu gosto. Os mids (vozes, instrumentos) são precisos mesmo que os fones de ouvido tenham dificuldade com peças muito acústicas misturando várias vozes e instrumentos ao mesmo tempo. E os agudos têm um pouco de dificuldade com a sibilância dos sons em S e uma tendência a atingir uma saturação com volume alto.
Por outro lado, o "ambiente estereofônico" é bem abrangente, o que é muito imersivo em games, vendo uma série ou filme ou ouvindo músicas em áudio 360. Faltam ao Ear (1) o suporte a codecs de áudio mais avançados, incluindo apenas os padrões SBC e AAC , mas para esta faixa de preço, esta é uma ausência 100% perdoável.
Pelo preço de tabela, o Nothing Ear (1) oferece um som melhor do que você esperaria na faixa em torno dos 100 euros (R$ 620). Mas, no final, ainda é bastante mediano. Sim, ele é bom para o segmento, mas em termos absolutos, estes fones de ouvido também não são revolucionários.
ANC e microfones: redução ativa mista
O Nothing Ear (1) apresenta redução ativa de ruído (ANC) com três microfones embutidos em cada fone, permitindo que o ANC seja aplicado à sua própria voz durante as chamadas.
Gostei:
- ANC é bastante eficaz no nível máximo;
- Bom isolamento passivo.
Não gostei:
- Qualidade de microfone decepcionante;
- ANC de vozes não é muito eficaz.
O Nothing Ear (1) tem um design semi-aberto. Não são, portanto, completamente in-ear (intra auricular), mas o isolamento de ruído passive (que é baseado nos materiais e na ergonomia do design) é bastante bom.
A redução de ruído é chamada de "híbrida" e é baseada em três microfones por fone de ouvido, um dos quais é posicionado na lateral do alto-falante para corrigir o processamento de áudio em tempo real. De acordo com a fabricante, os fones de ouvido são capazes de reduzir o ruído ambiente em até 40 dB.
O ANC não é adaptável, você pode ou ligá-lo ou desligá-lo. No entanto, ele oferece 2 níveis de intensidade, um modo Leve e um modo Máximo. Só achei o modo Max bastante eficaz. Os ruídos sólidos (resultantes do contato entre duas superfícies) e os ruídos contínuos (ventilador, sons de carros) são geralmente bem atenuados.
Há também um modo de transparência que faz o que todos os outros modos de transparência em todos os outros fones de ouvido fazem: amplificar o ruído ambiente.
Para as chamadas de voz e/ou vídeo, achei a qualidade dos microfones bastante decepcionante. O recurso de redução de ruído de voz para isolar sua voz de seu ambiente sonoro nunca me pareceu útil, ou pelo menos seus efeitos não foram perceptíveis o suficiente. Mesmo dentro de casa e sem poluição sonora, a voz é abafada e a "definição" deixa a desejar.
No geral, o ANC é suficientemente eficaz para a maioria das situações. Mas o desempenho dos microfones é francamente decepcionante, especialmente porque a fabricante insistiu em sua tecnologia ANC de voz e em seus já citados três microfones.
Recursos: um aplicativo agradável, mas limitado
O Nothing Ear (1) oferece controles de toque, bem como um aplicativo complementar e uma gama bastante abrangente de recursos.
Gostei:
- Boa interface no app complementar;
- Controles de toque limitados mas responsivos;
- Possibilidade de uso mono.
Não gostei:
- Sem opção de Bluetooth multiponto;
- Muita latência;
- Sensor de uso muito sensível;
- Aplicativo somente em inglês.
O aplicativo Ear companion (1)
O aplicativo companheiro da Nothing está disponível para Android ou iOS. Sua interface é limpa e muito fácil de entender. Há dois botões: Hear ou Touch. Hear permite gerenciar o ANC e a equalização enquanto o Touch permite personalizar os controles de toque para cada fone de ouvido.
As opções de personalização são muito limitadas. O ANC tem apenas dois níveis de intensidade e a equalização não é ajustável ao seu gosto, com a Nothing apenas oferecendo uma série de pré-definições, e os controles de toque não oferecem muito mais. Há ainda um modo "Find My Earbud" para ajudar você a encontrar os fones perdidos em um sofá, por exemplo.
Eu também aconselho desativar o sensor de uso nas configurações, pois ele é muito sensível e pausa a música de forma indesejável. A ideia do recurso é saber quando o fone foi tirado do ouvido para interromper a reprodução de música, mas registrou falsos positivos no teste.
Controles de toque
Por padrão, você tem três gestos em ambos os lados. Toque duplo para interromper a música. Toque triplo para saltar para a próxima faixa e toque longo para alternar entre os diferentes modos de redução de ruído. Finalmente, deslizar o dedo ao longo da haste permite alterar o volume.
Na prática o funcionamento é bastante estranho, já que o volume controlado por toque não é o volume da origem (seu celular, notebook), mas o dos fones de ouvido, o que acaba sendo confuso. No aplicativo, você pode reatribuir os gestos para o lado da sua escolha. Mesmo que o toque longa não sirva para outro fim além de ativar o ANC, não se pode atribuí-lo de outra forma. Isto reduz muito as possibilidades de personalização. Mas os controles de toque foram bastante responsivos em meu teste.
Conectividade
O Nothing Ear (1) se comunica usando o padrão Bluetooth 5.2, mas infelizmente eles não oferecem conectividade multiponto para vários dispositivos ao mesmo tempo.
Cada fone de ouvido pode ser usado em modo mono, desde que o sensor de uso esteja ativado. O sinal estéreo é então reproduzido em mono no único fone de ouvido deixado em seu ouvido, o que é realmente útil.
Outro inconveniente é que a latência é bastante alta. Mesmo nas plataformas de streaming de vídeo que possuem mecanismos de software para compensar a latência, percebi uma clara defasagem entre o som e a imagem. E foi ainda mais irritante nos games que não possuem controles de compensação. Eu não cronometrei, mas alguns dos atrasos foram facilmente tão longos quanto 1 segundo, o que é enorme.
Em geral, o Nothing Ear (1) oferece mais recursos que a maioria de seus concorrentes nesta faixa de preço. O sensor de uso, embora excessivamente sensível, é uma característica muito rara em um par de fones abaixo de R$ 1.000. O aplicativo também é muito limpo e, ainda que as opções de personalização sejam muito limitadas, tudo funciona de maneira correta.
Duração da bateria: média, mas a carga sem fio compensa
O Nothing Ear (1) está equipado com uma bateria de 31 mAh em cada lado, enquanto o estojo de recarga contém uma bateria de 570 mAh.
De acordo com a Nothing, os fones de ouvido têm uma duração de 4 horas com redução de ruído ligado e 5,7 horas sem. A vida útil da bateria é aumentada para 24 ou 34 horas (ANC ligado ou desligado) com o estojo de carga. Este é um desempenho mediano e claramente não está no topo do ranking, mesmo nesta faixa de preço.
No uso real, consegui facilmente usar mais de 4 horas com o ANC permanentemente ativado no nível máximo e com um nível de volume bastante alto. Quanto à recarga, a Nothing promete que 10 minutos de recarga oferecem 1,2 hora de autonomia sem ANC ou 50 minutos com ela. Os fones de ouvido levam quase 1,5 hora para carregar completamente, o que também acho bastante longo.
O cabo USB-A para USB-C também é muito curto (cerca de 30 centímetros). Por outro lado, tenho que aplaudir a Nothing por oferecer a recarga sem fio Qi nestes fones de ouvido. Não é uma característica matadora, mas é raro encontrar o recurso nesta faixa de preço.
Em geral, a autonomia do Nothing Ear (1) é média, assim como o número de recargas permitidas pelo estojo e a velocidade de recarga. Apenas a recarga sem fio traz pontos nesta parte do teste.
A ficha de dados técnicos
Nothing Ear (1)
Componente | Especificações |
---|---|
Drivers |
|
Codecs Bluetooth | AAC/SBC |
Faixa de freqüência | desconhecido |
ANC |
|
Bateria |
|
Duração da bateria |
|
Carregamento |
|
Conectividade |
|
Certificação IP | IPX4 |
Aplicativo e EQ | Sim: Android e iOS |
Dimensões e peso |
|
Preço | 99€ (R$ 620 em conversão direta) |
Conclusão
O Nothing Ear (1) faz jus a todo o hype gerado? Não. Mas será que você pode dizer que um produto tem um preço exagerado quando o valor é mais do que competitivo? Não, não pode.
Sou uma dessas pessoas que acreditam que o marketing em torno de um produto é parte integrante da experiência de uso. A importância de cumprir a(s) promessa(s) e entregar um produto que seja fiel àquele que você divulgou é essencial. Seja em computação ambiental, chacoalhar o mercado ou originalidade, o Nothing Ear (1) não pareceu mostrar a que veio.
Mas em termos da boa e velha relação custo-benefício, é um produto muito convincente. Se eu quisesse comprar um par de fones de ouvido sem fio TWS e acessíveis e não tivesse muitas exigências, escolheria definitivamente o Nothing Ear (1). O ANC é muito bom, o som é equilibrado e há muitos recursos que normalmente não são encontradas nesta faixa de preço.
O Nothing Ear (1) não é excepcional, mas não é de forma alguma um produto ruim. Como uma empresa iniciante, entendo a escolha da Nothing de lançar um produto mais barato e de baixo risco. Mas como os fones não são tão excepcionais quanto poderiam ou deveriam (ou prometeram) ser, o Ear (1) é apenas mais um em uma longa trajetória de fones sem fio abaixo de R$ 1.000. Se esta é a ambição da Nothing como empresa, faltou um pouco de visão.
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