Never Throttle: entenda a polêmica de desempenho do OnePlus 9
A OnePlus tem estado no olho do furacão nos últimos dois dias após ter sido flagrada desacelerando seu OnePlus 9 e 9 Pro em alguns aplicativos populares a fim de manipular as pontuações de benchmarks. A "otimização" da fabricante supostamente serviria para preservar a bateria dos seus celulares topo de linha.
- Um teste do OnePlus 9 Pro mostrou uma limitação do desempenho da CPU para alguns aplicativos;
- A OnePlus confirmou este mecanismo que visa preservar a bateria através da otimização do desempenho;
- Esta limitação afeta 300 aplicações, mas não os benchmarks gráficos ou alguns jogos;
- Geekbench 5 removeu o OnePlus 9 e 9 Pro de suas listas e acusa a OnePlus de manipulação de resultados.
Mas vamos começar pelo início. Em 6 de julho, um site especializado sério e reconhecido Anandtech observou sérias desacelerações no OnePlus 9 Pro.
Em um longo artigo apoiado por testes e resultados, o editor Andrei Frumusanu demonstrou por A+B que o OnePlus 9 Pro definiu alguns aplicativos populares como o Twitter ou o Chrome para não aproveitar todo o desempenho do processador Snapdragon 888 ao executá-los.
O OnePlus 9 Pro parecia desabilitar o núcleo Cortex-X1 (de alto desempenho) ao executar os aplicativos da lista, liberando apenas os núcleos intermediários Cortex-A78 ou, em alguns casos, restringindo a carga de trabalho aos núcleos Cortex-A55, de baixo desempenho, mas maior economia de energia.
Ao fazer isso, o funcionamento e respostas destes apps foram limitados consideravelmente, na faixa de 20% do desempenho que o processador é capaz de fornecer, de acordo com os testes realizados pelo Anandtech.
"Isso resultou em alguns números de benchmark realmente estranhos que retratam o OnePlus 9 Pro como um celular básico do início de 2010, com desempenho horrível.", diz a investigação do Anandtech, em inglês, que vale a pena conferir.
Em 7 de julho, a OnePlus respondeu através de uma declaração que explicava isso:
Nossa principal prioridade é sempre proporcionar uma excelente experiência de usuário com nossos produtos, baseada em parte em ser altamente responsiva ao feedback importante do usuário. Após o lançamento do OnePlus 9 e 9 Pro em março, os usuários indicaram algumas áreas onde poderíamos melhorar a vida útil da bateria e o gerenciamento do calor dos dispositivos. Como resultado deste feedback, nossa equipe de P&D tem trabalhado nos últimos meses para otimizar o desempenho dos dispositivos ao utilizar 300 dos aplicativos mais populares, incluindo o Chrome, combinando os requisitos do processador do aplicativo com a potência mais apropriada.
OnePlus assume a responsabilidade pelo Batterygate
Se isolarmos a mensagem real no meio do blablabla corporativo, entendemos que a OnePlus não está reconhecendo o problema ou pedindo desculpas. A fabricante simplesmente afirma que "otimizou" o desempenho do OnePlus 9 e OnePlus 9 Pro para uso com 300 dos aplicativos mais populares.
Segundo a OnePlus, esta medida é totalmente voluntária e assumida, pois visa preservar a bateria de seus celulares e, portanto, melhorar a experiência do usuário. Um argumento que lembra o da Apple, mas cujo escândalo em 2017 em torno da lentidão proposital do iPhone, apelidada de Batterygate, teve proporções incomparavelmente mais sérias e cujas repercussões ainda hoje são evidentes.
A postura do OnePlus foi recebida com fortes reações, o que não é surpreendente. Uma das críticas que surgem com mais frequência é que a fabricante deveria ter deixado a escolha a cargo dos consumidores para ativar esta "otimização" ou, pelo menos, para poder definir exceções.
Especialmente porque este já é o caso do recurso de otimização da bateria no OxygenOS 11. Este modo que permite que o sistema desative aplicativos em segundo plano de forma mais agressiva para limitar o consumo de energia permite que o usuário escolha quais aplicativos podem escapar dele.
Independentemente das intenções, isso só piora a imagem da OnePlus, uma fabricante cuja essência de todo o marketing e marca se baseia em sua transparência com a comunidade e comunicação com o público. Falando apenas sobre o problema de desaceleração após ser flagrada e exposta publicamente.
Uma tentativa de trapacear nos benchmarks?
Vindo à outra grande, e talvez mais importante, crítica levantada pela investigação do Anandtech, a OnePlus disse que sua otimização envolveu 300 dos aplicativos Android mais populares, incluindo o Google Chrome.
O problema é que em aplicativos de benchmark e menos populares, o desempenho não é limitado e parece se beneficiar de todo o poder do Snapdragon 888.
"O que é evidente aqui é que este não é um mecanismo que se aplica apenas a um punhado de aplicativos, mas se aplica a praticamente tudo que tem algum nível de popularidade na Play Store, incluindo todo o pacote de aplicativos do Google, todos os aplicativos do Office da Microsoft, todos os aplicativos populares de mídia social e qualquer navegador popular, como Firefox, Samsung Internet ou Microsoft Edge", diz o artigo do Anandtech.
E o site continua que "as únicas aplicações que estavam visivelmente ausentes de detecção eram alguns dos jogos mais populares". Enquanto jogos como o Candy Crush eram limitados em termos de desempenho, o Genshin Impact não foi. É claro que, além dos jogos, nenhum aplicativo de benchmark foi detectado".
Em relação ao Genshin Impact, é interessante notar que é um jogo muito exigente para o processador e muito focado em gráficos e sua fluidez. Candy Crush, por sua vez, é um título que funcionaria perfeitamente em um Moto G 2015. Pode-se dizer que a OnePlus prefere acelerar o Candy Crush já que o estrangulamento terá menos impacto na experiência do jogo do que em Genshin. Mas pode-se dizer também que a OnePlus fez esta escolha porque o gargalo térmico seria menos perceptível desta forma.
Geekbench, um dos benchmarks mais utilizados pelos testadores, mas cuja pontuação também é importante para os fabricantes e suas equipes de marketing, removeu o OnePlus 9 e OnePlus 9 Pro de seu ranking oficial considerando as ações da fabricante como "uma forma de manipulação de benchmark".
We will also test the other OnePlus handsets in our performance lab to see if these handsets also manipulate performance in the same way. If they do, we will delist them from the Android Benchmark chart.
— Geekbench (@geekbench) July 6, 2021
A empresa disse ainda que realizaria seus próprios testes de laboratório para ver se outros modelos OnePlus "manipulam o desempenho da mesma forma".
Conclusão
Para concluir, a única coisa que podemos dizer com certeza é que estas limitações foram intencionais e a OnePlus está assumindo a responsabilidade por elas. Quanto às intenções da fabricante, dependerá da relação que se tem com a marca.
Factualmente, a consequência lógica de qualquer desaceleração normalmente envolve um consumo reduzido de recursos. O argumento da otimização da bateria se sustenta neste ponto. E como técnico que aprecia a OnePlus, eu posso aceitá-lo.
Mas então por que aplicar esta "otimização" apenas em alguns apps e não em outros? E especialmente por que não aplicá-lo aos benchmarks? Se o OnePlus 9 Pro está liberado para usar todo o poder do Snapdragon no Geekbench 5, mas for limitado no uso no mundo real e nos aplicativos que usamos diariamente, é um comportamento enganoso para o consumidor.
Finalmente, se voltarmos à declaração da OnePlus, podemos ler que esta "otimização" de desempenho teria sido ativada após o lançamento do OnePlus 9 e 9 Pro, através de uma atualização pós-lançamento. Entretanto, como nossos colegas do XDA Developers apontaram, vários testes realizados sob embargo (e portanto antes do lançamento) sugerem que a desaceleração já havia sido observada naquela época.
Não seria a primeira vez que uma fabricante Android trapaceia em benchmarks. A OnePlus já foi flagrada com o OnePlus 5 em 2017, mas a Xiaomi, Samsung, Huawei ou até mesmo a novata Realme já foram todos pegos fazendo algo parecido no passado.
Tudo o que resta é ver se a OnePlus persiste no erro e assina este atestado de desonestidade ou se veremos uma atualização do OxygenOS para "corrigir um bug e melhorar o desempenho".
Fonte: Anandtech, XDA Developers
Apple fazendo escola, na minha opinião, isto seria válido se tivessem informado com antecedência os consumidores , como está considero picaretagem.