Enquete da semana: você pagaria por privacidade em apps e redes sociais?
Enquanto as empresas de tecnologia debatem a respeito do controle dos dados pessoais e a privacidade em apps e serviços, e se por acaso houvesse a opção de optar por não ser rastreado, será que as pessoas pagariam por isso? É o que perguntamos à comunidade NextPit na enquete da semana, e os resultados foram interessantes.
Uma frase cunhada por Andrew Lewis diz que "se você não está pagando por isso [produto/serviço], você não é o cliente, mas sim o produto sendo vendido". Ela ajuda a situar o atual debate em torno da privacidade, com empresas de publicidade e redes sociais questionando o maior controle dado pelo iOS aos usuários sobre suas informações pessoais e hábitos de navegação e consumo.
Quando perguntamos aos leitores do NextPit se eles estariam dispostos a pagar por um maior controle de seus dados pessoais, encontramos diferentes resultados nos diferentes domínios.
Enquanto brasileiros e franceses se mostraram menos interessados em pagar por mais privacidade, os leitores do site em inglês se mostraram bastante divididos (48/52% para sim e não, respectivamente).
Já a comunidade alemã demonstrou que se preocupa bem mais com a questão, com 70% das respostas afirmando que estariam dispostos a pagar para que apps e serviços não acessem seus dados pessoais.
No caso de uma opção de pagamento, as respostas foram unânimes em optar por um único pagamento no lugar de uma mensalidade ou valor recorrente. Neste ponto, o maior poder aquisitivo dos leitores europeus pode ter pesado a favor do método de pagamento único, enquanto no Brasil, o impacto maior do valor único (considerando os salários médios mais baixos no país) e o costume de pagamentos parcelados pode ter influenciado a distribuição de 67 e 33%.
Muitos leitores destacaram a inversão de valores em um mundo que deveria tratar a privacidade como um direito universal. Um ponto lembrado entre os franceses foi que o país possui um imposto de serviços digitais (também conhecido como "taxa GAFAM", para Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft), que incide sobre publicidade e venda de dados pessoais, mas acabou sendo repassado ao consumidor final em forma de reajustes de preços.
Já quanto a quais tipos de dados os leitores estariam mais inclinados a pagar para não serem rastreados, tivemos uma diferença na geração da enquete, que deveria ser de múltipla escolha. Peço desculpas aos leitores nos sites em alemão e inglês. De qualquer forma, grande parte dos leitores demonstraram preocupação em manter suas informações financeiras longe das bases de informações das empresas.
O acesso a conteúdos pessoais como fotos e mensagens também foi bastante citado, especialmente no Brasil e França, enquanto os leitores dos sites em inglês e alemão demonstraram uma forte preocupação também com as informações de contato.
Curiosamente, enquanto na Alemanha e na França os dados de saúde se destacaram entre as respostas dadas, a informação foi a menos citada nas respostas dos brasileiros. Este resultado pode ter relação com as restrições de publicidade de medicamentos e tratamentos médicos na mídia brasileira, mas essa é uma análise que exigiria mais tempo e foge um pouco do escopo deste texto.
Conclusão
Os comentários destacaram em peso que a privacidade não deveria ser um opcional, e que a proteção dos dados pessoais deveria ser o padrão. Muitos leitores alemães destacaram que usam o app de mensagens Threema, que é pago e possui uma política de anonimato e coleta mínima de dados pessoais dos clientes.
As respostas da comunidade NextPit nos comentários refletem os números divulgados pela consultoria Flurry, segundo os quais menos de 15% dos usuários ativos do sistema iOS permitiram o rastreamento de dados, enquanto apenas 5% desligaram a opção que obriga os apps a pedirem autorização para acesso a dados pessoais.
Ainda que a pesquisa se baseie em uma fração do total de usuários do iOS — 5,3 milhões —, os resultados mostram uma preocupação muito maior com a privacidade e rastreamento de dados do que anteriormente esperado. Uma pesquisa antes do lançamento do iOS 14.5 mostrou que 38,5% dos entrevistados permitiriam o rastreamento de suas informações por apps no celular.
Por outro lado, enquanto os leitores alemães se mostraram mais abertos à possibilidade de pagamento para monetizar apps e serviços em troca do controle de seus dados — caso do já citado Threema —, a comunidade nos outros países ficou mais dividida, talvez contando com um maior respeito às leis locais de proteção de dados.
Obrigado novamente a todos que participaram da pesquisa e aos leitores que comentaram a enquete explicando seu ponto de vista e apontando a falta de múltiplas respostas na pesquisa em alemão e inglês. Caso tenha uma ideia para uma próxima enquete, fique à vontade para sugerí-la no campo de comentários abaixo!
Texto original
Uma das palavras mais repetidas no mundo da tecnologia em 2021 ao que tudo indica será “privacidade”. Não bastassem as mudanças implementadas pela Apple no iOS 14.5, o Facebook se viu em uma tempestade de relações públicas após anunciar mudanças nas regras do WhatsApp. Apesar de muita gente se dizer preocupada com sua privacidade e dados pessoais, será que elas estariam dispostas a pagar por ela?
A Apple anunciou em 2020 que daria aos usuários mais controle sobre seus dados pessoais, mas permitiu que os desenvolvedores de app se preparassem para a mudança — que transforma o rastreamento de dados pessoais em uma nova permissão de sistema.
A mudança finalmente entrou em vigor com o iOS 14.5, não sem antes levantar uma série de questionamentos por parte de empresas de anunciantes — cujo modelo de negócios se baseia em obter o máximo de informações sobre o público — e redes sociais, mais especificamente o Facebook.
Contrariando a expectativa até mesmo de nós (céticos) editores do NextPit, o Google anunciou que adotará uma maior transparência no acesso de apps Android aos dados pessoais dos usuários, mas ainda não detalhou se exigirá que os aplicativos peçam autorização para a coleta de informações.
Pensando nisso, e se para oferecer a desativação completa do rastreamento de dados pessoais, as empresas pedissem um pagamento pela sua privacidade, você estaria disposto a pagar por isso?
Aplicativos como o Threema, de mensagens instantâneas, adotam uma política de coleta de dados pessoais mínima, mediante o pagamento de uma taxa única de R$ 16,90. Em troca, a empresa promete armazenar o mínimo possível de dados do cliente, oferecendo não apenas privacidade, como também anonimato.
Caso outros aplicativos e serviços oferecem o mesmo compromisso, se você tivesse a opção de optar por um modelo de pagamento, optaria por pagar um valor único ou uma “assinatura” de privacidade com um pequeno valor mensal ou anual?
A discussão em torno da coleta e uso de dados pessoais por parte de páginas web e redes de publicidade online pode ter ganhado força após a adoção de leis de proteção de dados, caso da europeia GDPR (ou sua equivalente brasileira, a LGPD). Mas, tradicionalmente, essa sempre foi uma preocupação em alguns países, caso da Alemanha e outros países do norte da Europa.
Estas legislações recentes estão por trás, por exemplo, das perguntas sobre o uso de cookies na internet, em alguns casos oferecendo controles granulares para quais tipos de dados você permite que o site ou a empresa responsável pelos anúncios armazene ao seu respeito.
Algumas pessoas, inclusive, parecem confortáveis em autorizar a coleta de alguns padrões de navegação em troca da exibição de anúncios e ofertas personalizadas.
Pensando nisso, caso o Facebook ou qualquer outra rede social ou app oferecesse a opção de não acessar ou registrar seus dados em troca de um pagamento ou microtransação, por qual tipo de informação você estaria disposto a pagar para impedir o acesso ou armazenamento?
Com a implementação das novas regras de privacidade e dados pessoais do WhatsApp na próxima semana — 15 de maio —, o tema deve voltar à tona inúmeras vezes, inclusive aqui no NextPit, então acompanhe nosso site e as redes sociais para mais artigos relacionados ao tema.
Antes de me despedir, convido você a explicar suas respostas no campo de comentários abaixo. Como costuma lembrar meu colega Antoine Engels, o debate nos interessa muito mais do que a simples estatística. Além disso, as opiniões e debates junto à comunidade nos ajudam a melhorar o site e, claro, inspiram novas enquetes e artigos.
Agradeço a todos que participam de mais esta enquete da semana e nos vemos novamente na segunda-feira (10), quando discutiremos as diferentes respostas da comunidade NextPit ao redor do mundo. Bom final de semana!
Gostariabé de receber pelos meus dados vazados -)